Uma carta para os perdidos
Escrevo esta carta para os que se sentem perdidos como eu. Escrevo para aliviar um pouco a dor. Não espero uma carta cheia de dor, mas que traz esperança de dias melhores. Eu não sou assim. Não vejo essa luz que tantos outros parecem enxergar. Sou vejo o escuro. Eu sou o escuro da noite. Esta não é uma carta para os que têm certezas no peito, brilho no olhar, para os seguros e vitoriosos. Esta carta é para os que duvidam da vida, para os que não acreditam em si mesmos, para os inseguros e fracassados. Eu sou desses e não importam os livros de auto-ajuda, as frases de efeito, motivação ou autoafirmação. Eu sou assim. Em alguns momentos, me olho no espelho e simplesmente duvido do meu reflexo. As incertezas sou eu. Eu duvido de meus talentos (se é que tenho algum), sobre minha capacidade de fazer algo ou alguém feliz ao meu lado, pois eu sou uma pessoa que não merece ser notada. Existe em mim uma tristeza miúda que não sei explicar; ela não vai embora, está presa em mim como o mofo das paredes do meu quarto. Certo alguém me disse que o tempo cura as feridas: sinto discordar, mas as minhas feridas não cicatrizaram, ao contrário, elas estão abertas, latejando, me fazendo sangrar silenciosamente, me pergunto se um dia elas vão se fechar. Alguém pode pensar que é ingratidão e que existe pessoas em situações piores que eu, outros tecerão elogios vazios de minha expressividade, outros ainda vão ignorar, pois não estão nem aí para a dor alheia. Não é ingratidão, nem expressividade barata, nem vitimização, é apenas um desajuste. Tentar fazer parte é extremamente dolorido, sobretudo quando você não se ver parte daquilo. Querer ser um clichê é muito difícil. Os amores eternos se desmancham em segundos. O tempo passa e me deixa grisalho e com marcas profundas. Em meio a tantas incertezas, tenho apenas uma, que cresce silenciosamente como uma árvore: que serei sozinho, serei sempre só, serei o meu próprio mundo, serei apenas eu. Talvez um dia eu duvide dessa certeza.