CARTA À DONA QUININHA (2)
São Paulo, 15 de julho de 2015
Mãe, boa noite.
Escrevo-lhe essas mal traçadas linhas para saber suas noticias e também lhe dar as minhas.
Era exatamente assim que a senhora iniciava todas as suas cartas, lembra, mãe? Eu adorava tanto que resolvi adotar, copiando seu inconfundível estilo.
Por aqui a coisa mudou bastante: esse tipo de correspondência já caiu em desuso, agora se usa o tal de Facebook, ou wahtsApp, até o e-mail que a senhora nem chegou a conhecer também ficou para trás. Deixa pra lá, mãe, o importante é a gente manter contato.
A coisa aqui tá feia, mãe! Crise pra todo lado, tem até pai de santo fazendo despacho com caldo de galinha Knorr, a roubalheira do dinhero público continua, depenaram a Petrobras, rombo de bilhões.
A senhora não vai acreditar, tem peixe graúdo na cadeia, apareceu um tal de Juiz Sérgio Moro, o cabra é macho, tá pegando tubarão pelas guelras, o magristrado tem aquilo roxo, não abre mão nem para um trem carregado de homens-bomba, tem nego se cagando só em ouvir o nome dele. O cabra é bom, mãe, pode levar fé.
Falando naquilo roxo, a senhora lembra do caçador de Marajá, aquele do Fiat Elba? Ele gostava muito de usar a palavra pocilga, a senhora até entendeu pintassilgo, e riu quando expliquei que pocilga é um curral de porcos, chiqueiro. Pois bem, a Polícia Federal apreendeu três carroças dele, uma Ferrari vermelha, um Porsche, não é ponche daquele que a senhora fazia, é Porsche mesmo, e uma tal de Lamborghini. Parece nome de remédio para lombrigas, mas é um baita carrão. Porra, mãe, às vezes fico até irado com a senhora, eu poderia estar numa boa, andando num carrão desses, mas a senhora, ao invés de casar com um deputado ou senador, até um vereador já quebrava um galho, mas a senhora cismou de casar com um soldado de policia, e pra acabar de lascar, honesto! Ai deu na merda que deu, nem bicicleta eu tenho.
Vou terminando por aqui, aguardo resposta sua.
A bênção do seu primogênito.
Benê