Carta Para Ele

Um dia você vai aprender o que é o amor. Você vai perceber que é um sentimento que esteve à sua frente por muito tempo, mas você não o acolheu e ele foi embora. Esse sentimento, teimoso, retornou e pousou ao seu lado novamente, e você mais uma vez o mandou ir pra longe.

Sabe, não te culpo. A gente só dá aquilo que a gente tem pra dar. A gente só faz aquilo que damos conta de fazer. Amar, pra você, é como carregar um fardo de cinquenta quilos no peito: um peito que não está preparado para se entregar à dor e à delícia de sentir.

Lembro até hoje dos dias em que você dizia: “Vamos casar? Vamos ter um filho?”. E eu, com meu coração cheio de amor, imaginava que isso poderia ser possível. Ah, você não sabe quantas noites eu passei pensando em como seriam os rostinhos dos nossos bebês. Em como eles iriam sorrir com a sua chegada, quando abrisse a porta de casa e eles corressem em sua direção.

Eu não te pedi muito, não. Pedi só aquilo que, pra mim, era tão simples de se dar: amor, presença. Aquele olhar cúmplice ao final do dia, aquele silêncio compartilhado de quem sabe o que se passa com o outro, antes mesmo que os lábios se abram pra proferir as palavras.

Só me esqueci de uma coisa: você não sabe amar. E novamente eu lhe digo: você não tem culpa. Talvez tenha sido aquela menina de seis anos que recusou seu beijo na escola, ou aquele amor que faltou de seus pais. Amar também é aprendizagem, e, de alguma forma, esse conteúdo não foi plenamente absorvido por você.

Hoje eu só rezo. Rezo pra que você seja muito feliz (se é que isso é possível sem amor...). Eu rezo e desejo o bem porque é o que eu consigo fazer. Nós só damos aquilo que temos, lembra? E aqui, no meu peito, só mora amor. Já tentei nutrir raiva como uma ferramenta de autoproteção, mas ela só funciona temporariamente, sabe? Quando percebo lá estou eu, de novo, perdoando e desejando as melhores coisas pra pessoas que já me magoaram.

Eu sei que, apesar dos meus erros, dei meu melhor pra você. A sensação de fazer a minha parte me traz paz e serenidade. Daqui um tempo, eu estarei naquela rua, daquela cidade que nós amamos, e eu verei você sentado à beira da lagoa. Possivelmente você estará acompanhado, e eu irei pensar...

Ah, pensando bem, não irei pensar nada. Simplesmente porque você não fará mais parte dos meus pensamentos...

De quem nunca disse “te amo”, mas te amou profundamente,

Eu.

Laís Pereira
Enviado por Laís Pereira em 19/10/2016
Código do texto: T5797026
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2016. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.