Diário de um Louco
"Esta noite sai a passear a meia-noite: eram dez horas. A lua brilhava entre as trevas de um dia claro e sem Sol. Entrei num bosque sem árvores, encontrei um negro careca que penteava sua linda cabeleira loura, enquanto os passarinhos pastavam pelos campos de asfalto e as vacas pulavam de galho em galho num ritmo de iê-iê- iê. No mesmo instante, dois dias depois, perto daqui, a dez mil milhas, sentado em pé numa pedra de madeira feita de barro de areia um surdo mudo gritava cochichando e ouvindo ruídos silenciosos que dizia: 'A vida é um barco sem fundo que navega de boca pra baixo sob as ondas de um poço sem água'. Prefiro mil vezes morrer do que perder a vida. Que vejo nisso, um cego que lia um jornal sem letras, nas luzes de um lampião apagado, que dizia: 'Os quatro profetas do mundo eram três: Moisés e Elias'. Andando vagarosamente rápido, nas costas de um cavalo, só depois de muito correr, percebi que estava parado. Foi ai que senti uma apetitosa falta de fome, entrei em casa em casa pela porta do fundo que ficava na frente e pus-me a correr... De repente senti uma dor esquisita no estômago, perto da barriga da perna. Percebi que havia comido o guardanapo e limpado a boca no bife, dependurei-me no cabide e deitei o paletó, e comecei a meditar: 'Esse mundo é uma bola quadrada de forma redonda triangular que gira parada nas ondas de um poço sem água'."