AO NADA DE DENTRO
Ao som de Farrell Ballad de Zakk Wylde repetidamente
Nunca pensei que fosse possível esse tipo de coisa. Sempre, desde pequeno, fio um tanto racional, por assim dizer, como quando via todos aqueles dramas sobre amor e todas as reações violentas que tanto eram fruto das paixões quanto das psicoses. Sempre achei um exagero todas as lágrimas e violências, como se as pessoas agissem por interpretar um personagem, o que tornava tudo muito tedioso. E vivi bem assim até uma boa parte dos meus 20 anos, sempre assim, o mais intenso sentimento que tinha sentido até então era tristeza, o que tornava tudo muito mais cinza na minha vida. Isso até te conhecer. Tudo se tornou muito mais intenso e perigoso e eu comecei a perceber a profundeza desses sentimentos tão terríveis. Acho que na verdade nunca fui muito saudável mentalmente, e acho que eu agora, posto que somos seres bio-psico-sociais, principalmente no que diz respeito ao social, me tornei meio que atrofiado. Tenho pesadelos recorrente com você, com seu rosto sorrindo e tantas outras coisas. Nunca te procurei depois do que houve, e isso já faz 6 ou 7 anos, sempre soube que nosso caso era uma impossibilidade em essência, e que o certo é manter distância para sempre de você, inclusive era tudo que eu queria. Sempre temi ser aquele tipo de ex psicopata que persegue e briga e faz toda a sorte de loucuras, por isso travei uma batalha interna épica para nunca mais te ligar de um dia para outro. Isso me consumiu, perdi a faculdade, perdi o estagio, perdi o emprego onde tinha acabado de ser promovido, e tudo que eu havia conquistado durante nossos 5 anos juntos eu retrocedi. Até mesmo parei de escrever meus blogs e contos.
Eu não mudei de ideia, eu sei que nada do que foi voltará, e na verdade eu não quero, tenho vivido mais mesmo por viver, as coisas não tem mais o tom cinza de indiferença e apatia que tinham antes de te conhecer, agora, com sua ausência, tudo ganhou um tom sombrio de lágrima seca, de página rasgada, de oportunidade perdida. Já me perguntaram por que eu te odeio tanto, o que nem é verdade, ao menos não mais, mas eu tinha que dizer isso, o que mais eu diria? Não dava pra dizer, nem pra mim mesmo, que sentia algo diferente de ódio. Mas hoje que minha vida parece dar sinais de melhora a passos de formiga e a duras penas, as circunstancias estão me forçando a ter que te rever e nada me assusta mais que isso. Nunca pensei que fosse possível isso, mas na ultima vez em que nos vimos eu não via a hora de me afastar de você, senti algo tremendo e terrível que não posso nomear como outra coisa que "ranço". Não, eu não tenho ódio de você, mas depois de tudo que aconteceu e a maneira como tive que lidar não só com as minhas dores, mas com as dores dos outros, você se tronou para mim uma enorme ferida aberta que dói quando faz frio, quando faz calor, quando estou sozinho, quando estou rodeado de amigos, quando venta, quando ligo a tv, quando faço minha marmita, quando abro a geladeira, quando bato o cartão de ponto, quando fecho os olhos, só não dói quando bebo e... enfim. Depois de todos esses anos posso dizer que já me acostumei um pouco, não se passa maldito dia em que não penso em você e no que está fazendo, mas na maioria dos dias é apenas um pensamento que vem e vai, mas há dias em que me seguro para não derramar uma lágrima. Não toco mais Djavan e muito raramente escuto e ainda assim nenhuma das musicas que eram nossas. Hoje senti a necessidade de fazer esse desabafo mudo e surdo, para logo em seguida após um cigarro e um café, assistir alguma série ou filme alegre no qual vou fantasiar como seria minha vida se não fosse um cretino pobre e rancoroso. Sequer vou revisar isso pois ninguém vai ler mesmo, nem eu quero ler isso.
Boa noite princesa