decidir
“…Há sempre algo que nos impede de fazermos o que achamos que não devemos fazer… como que, dentro de nós, houvesse uma espécie de censura que velasse pelas nossas acções... o que podemos e o que não podemos fazer é algo que, primeiro, vai à loja da censura e só depois segue para fabrico... a forma final do produto é que poderá ser diversa daquela que foi projectada... onde nos leva tal atitude?... que castração nos provoca semelhante sujeição?... porque não fazemos apenas o que nos apetece fazer?... o que é isso de consciência?... uma espécie de balança com uma série de pratos onde são pesados todos os prós e os contras daquela acção planeada?... porém, porque razão agimos de imediato, sem pensar, em momentos de crise duma forma a que chamamos de instinto?... ou será que mesmo antes de agir instintivamente, a loja da censura funciona mesmo sem darmos por isso?... será que há, na mesma, um pesar na balança?... saltamos de imediato para o lado para evitarmos ser atropelados por um carro mesmo sem vermos que podemos cair na valeta cheia de água suja da sarjeta… fugimos rápidos, em caso de incêndio por exemplo, da varanda para a rua sem olharmos à altura que nos separa dela e sem pensarmos que podemos partir uma perna... porém, no dia a dia das nossas acções habituais de vida em que o instinto não é preciso, as nossas atitudes são “pesadas” antes de as tomarmos, como se de uma poção mágica se tratasse e fosse preciso tomar a medida exacta... então, hesitamos antes de agir e somente depois actuamos... as nossas escolhas devidamente pensadas tanto podem dar para o certo como para o torto… não há maneira de sabermos se aquela decisão, ainda que devidamente gerida e equacionada, vai resultar em pleno… mais tarde é que saberemos o resultado... na verdade e a experiência mostra-nos isso, quando usamos o instinto, verificamos o resultado da acção então utilizada, de imediato, quer seja bom ou mau… também, de imediato, ficamos felizes ou infelizes com a opção tomada... já quando apenas a tomamos depois de devidamente ponderada a questão, somente muito depois veremos o resultado… e até podemos viver angustiados aguardando o desfecho… será que fiz bem, será que fiz mal?... e agora?... bem, só tenho que aguardar e esta espera, esta expectativa provoca angústia, provoca danos, provoca dor... que faço?... escrevo um texto sobre que tema?... bem, vamos lá ver... penso, repenso e nunca mais me surge a inspiração para desenhar algumas letras sobre um tema que nunca mais se faz luz em mim... então, de imediato, começo a teclar instintivamente… saiu o que acabaram de ler… ao mesmo tempo que escrevia ia vendo o resultado de imediato daquilo que surgia no monitor... não houve angústia… não houve dor... utilizem o instinto o mais que puderem... vão ver que, geralmente, dá certo... também o pior que poderá acontecer é terem de perder tempo a ponderar a questão... mas será que ponderar é assim tão mau?... não sei, a decisão é sempre individual... façam o que vos aprouver… façam o que vos der na real gana... sejam felizes nem que para isso seja preciso chorar um pouco... é que, às vezes, umas lágrimas clarificam a situação e o panorama, após o choro, é um pouco mais claro!...”
Joaquim Nogueira