Que vem da montanha
Era uma tarde triste e incerta, tão vazia quanto uma praia deserta, mas aquela última brisa que veio lá da serra, tocou diferente na minha pele. Trouxe uma inquietude estranha, não aquela mesma que sempre me acompanha, mas uma outra que eu ainda não conhecia. Um desejo de aventura, de sair por aí sem rumo, seguir a estrada até onde ela termina, de tomar um caminho que eu ainda não conhecia, e partir deixando por um tempo nossa casa vazia.
E descobri que mais que uma brisa, ou um vento, essa sensação de querer partir era um sentimento, um desassossego, uma viagem onde a alma vai primeiro e o corpo chega depois. E ao olhar para você eu tive certeza do que em seguida aconteceria. Escalamos a montanha com esse espirito de aventura que nos guia, subimos pela face mais íngreme, e conseguimos chegar ao topo para descansar nossos olhos na paisagem e tocar as nuvens com nossas mãos.
E lá do alto dessa montanha contemplamos a beleza do mundo nos olhos um do outro, nos esquecendo de tudo que nesse mundo nos fere, nos derruba ou nos arranha, ao longe vemos que uma tempestade se forma, os raios riscam os céus com violência tamanha, é nós dois buscamos abrigo um no peito do outro com a certeza de que cada experiência nessa vida ou nos transforma ou nos entranha.