Férias do Autor

Isto era para ser uma despedida. Era para ser tanta coisa, mas a minha mão não consegue trabalhar à mesma velocidade que meus pensamentos.

Era para ser uma carta. Um adeus. Adeus à muita coisa, incluindo ao meu exercício amador de escrever. Incluindo uma parte importante de mim. Incluindo, também, alguns velhos hábitos. Era para ser um adeus.

Era para ser um "até logo", depois de pensar um pouco (com auxílio, claro; acho que eu não consigo me virar sozinho). É besteira; são sempre besteiras estas coisas tolas que passam pela minha mente bagunçada.

Era para ser uma crônica, escrita na madrugada de um dezembro qualquer de tempo estranho - não exatamente frio e nem realmente quente - de céu encoberto e lua ofuscada.

Era para ser um aviso. Um pequeno alerta ao leitor curioso (se é que este existe) que passarei por hiatos maiores que os que já enfrento.

Era para ser objetivo e não ter nenhuma espécie de tentativa poética. Era para ser menos introspectivo, mas não consegui.

Era para ser uma análise sobre os egos inflados (incluindo o meu) e de minhas pseudo-coisas. Pseudoescritor. Pseudoartista. Pseudopoético. Pseudovivo. Pseudomorto. Pseudoracional. Pseudônimo. "Pseudo" é meu sufixo favorito, em definitivo (mas, convenhamos: que tipo de pessoa tem um sufixo favorito? Eu, prazer em conhecê-lo. Ou em conhecê-la).

Era para ser muita coisa. Era para ser, na verdade, outro texto, em que eu falaria um tanto mais "abertamente" sobre alguns pensamentos bobos e que nada aqui publicado é fruto de "mera inspiração".

Era para ser um manifesto sobre o cansaço de uma mente jovem.

Era para ter uma citação a Álvaro de Campos (meu heterônimo favorito de Fernando Pessoa), mas a inserirei para nem tudo aqui dito ficar como algo que era para ter ocorrido.

"Estou cansado, é claro, porque, a certa altura, a gente tem de estar cansado".

Era para ser diferente. No fim, rumou ao que sempre ruma: mãos atadas, boca calada e aquela mesma sensação de um misto de agonia, melancolia e decepção com a minha pessoa. No fim, foi mais uma comprovação de que posso associar a vida a conceitos da física. Apenas em minha mente humanas e exatas se relacionam e a transformação cíclica pode ser associada na minha vida. É tudo muito estranho nessa cabeça que não funciona direito. No fim, foi apenas mais do mesmo.

Digressão.

Dissimulação.

Devaneio.

Devyatova.