Carta a meu filho

Meu filho,

Vazam de mim orgulho e emoção. Meu corpo é como um copo que quisesse conter a água de todos os rios do mundo. Com sua formatura, dou adeus ao surreal, ao sonho não atingido, realizando-o em você e vendo o mundo receber um arquiteto muito melhor do que aquele que não chegou a ter. Agradeço a quem você agradeceu, especialmente Saramago, Marcos Almeida, Senna e os músicos, e gostaria que acrescentasse aí seu xará, que, apesar de tudo, foi um homem honrado, que lhe deixou um nome a ser pronunciado com orgulho e preservado com respeito.

Estou certo que seu talento o levará a mundos insuspeitados, mas para isso você não pode esquecer que o talento é apenas um dos muitos componentes da competência. Entre eles a humildade. O síndico de um prédio pequeno que contratá-lo para o projeto de uma guarita merece a mesma consideração que o curador que lhe procurar para o projeto de um museu. Seja sério sem ser sisudo, cumpridor sem ser sistemático, coerente sem ser inflexível.

E vença sem humilhar o vencido.

Estou feliz também pela Flávia e torço para que ela lhe dê um filho parecido com o que tenho.

Um beijo, filho, e obrigado.