Preste atenção às palavras
“Querida,
Preste atenção às palavras.
São elas, do primeiro balbucio, que saúda a vida, ao último suspiro, que dela de despede, que nos tornam únicos. E, entre esses dois momentos extremos, também são elas que definem, de uma maneira ou de outra, nosso destino. Falo daquilo que dizem realmente, não importa se gramaticalmente são brilhantes ou toscas. Pois o que dizem demonstram quem somos, o que somos e a que viemos. São as ferramentas de nosso espírito. Manipulá-las é manipular nossas emoções, o que quase sempre traz resultados desastrosos. Emoções, ou sensações, existem para serem usufruídas, sentidas e usadas para nosso crescimento e para a maior aproximação possível da serenidade. Depois, então, usarmos as palavras para dividi-la - a serenidade - com quem amamos, com as pessoas que são realmente importantes para nós. Como nossos filhos, e, por que não, e principalmente, conosco?
Preste atenção às palavras.
Não deixe que a precipitação em usá-las crie cicatrizes em nossas vidas, que já são tão cheias delas. Cicatrizes que herdamos de nossas vidas anteriores, e que não merecemos que interfiram mais em nossas vidas de agora. Já atravessamos nossos desertos, já merecemos nosso oásis. Areias quentes não nos merecem mais.
Ando cansado, e certamente você também. Mas meu cansaço não é, e nunca foi, de você. É da vida, ou do que eu deixei que a vida fizesse de mim. Sigo lutando, embora surdamente, às vezes contra a cegueira, minha ou da vida. Ou das outras pessoas. Ou não...
Preste atenção às (minhas) palavras.
Talvez não sejam as mesmas suas, ou aquelas que quisesse ouvir, ou ler. Mas são as que eu tenho, e que me revelam. E as palavras que tenho, agora, são para lembrar você de tudo que construímos e conquistamos, jamais para lamentar que alguns sonhos ainda não foram atingidos, nem para condená-los ao inatingível.
Preste atenção às (suas) palavras.
Talvez não sejam as minhas, ou aquelas que eu quisesse ouvir. Mas não as use impensadamente, que correm o risco de virarem armas e ferirem quem não lhe quis ofender.
Preste atenção às nossas palavras...”