CARTA DE UM LOUCO [6]
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Querida,
Tenho andado sério, digo, tenho andado de um lado para outro, mas refletindo seriamente. Não vá ficar assustada não é nada sério. Vou lhe explicar o motivo.
Hálgumas semanas chegaram duas novas pacientes do Dr. Salvador. Uma delas fica parada num canto da sala, com uma perna dobrada feito uma cegonha, dando risinhos o tempo todo, sem nenhum motivo; e, se tem, vai se saber. A outra fica no meio da sala falando sozinha, enquanto trança e destrança o cabelo, ao mesmo tempo em que vigia com o canto dos olhos o movimento dos outros malucos.
Com essa fiquei intrigado e, dia desses, fui falar com ela. Comecei lhe perguntando por que foi internada. Ela ficou olhando para mim por um bom tempo sem me dizer nada; depois se virou de lado para desviar o olhar e me explicou que os pais colocaram na sua cabeça, quando tinha cinco anos, uma máquina de fliperama. As bolas vermelhas lhe dizem quando deve rir; as azuis quando deve se calar e se afastar das pessoas; as verdes dizem para ela começar a multiplicar por três e, de quando em quando surge uma bola prateada. Nesse ponto, ela voltou a cabeça e novamente fixou o olhar em mim. Achei que estava verificando se eu ainda a escutava. Perguntei-lhe o que significava a bola prateada. Ela olhou atentamente para mim e em seguida fixou o olhar no movimento do pessoal e passou a fazer o que fazia antes de falar com ela.
Até agora não consegui descobrir o que representa a bola prateada, porque toda a vez que lhe pergunto, ela repete a mesma cena final.
Apesar dos remédios, não tenho conseguido dormir pensando na bola prateada. Se você tiver uma sugestão, escreva-me; senão vou acabar enlouquecendo.
Do seu Maluco Beleza
P.S: Em tempo: Falaram-me que o povo ficou chateado pelo carnaval ter acabado. Diga ao pessoal para vir para cá, aqui tem todo dia e o dia todo.
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Agradeço a leitura e, antecipadamente, qualquercomentário.
Se vocêencontrarerros (inclusive de português), porfavor, meinforme.