DESAGRAVO E RATIFICAÇÃO DO AMOR.

 

Que extraño es el amor...

 

 

Imaruí, SC, 09/04/2007

 

 

Linda Chandinha,

 

 

 

Hoje eu me peguei pensando em ti, assim como faço todos os dias, entretanto, hoje está sendo muito diferente.

É que hoje eu estou apresentando uma inquietação na consciência, em virtude de ter deixado vazar para ti as minhas dúvidas com relação ao amor com que te devoto.

Mas também devo entender que se existe alguma dúvida, é sinal de que esse sentimento de amor está sendo ou foi trabalhado pela minha psique. (consciência)

E também porque eu o considero um sentimento inefável, assim ele me leva silente a um confronto com uma espécie de assombro preocupante, em contrapartida, também nessas ocasiões eu vivo um êxtase muito especial por saber da sua existência gostosa e muito obstinada.

Como disse o filósofo: se existe uma dúvida não é pela ausência da verdade, muito ao contrário, pois é a verdade em si que gera as dúvidas, porque ela está impactando a nossa mente que normalmente se compraz muitas vezes somente com as costumeiras ilusões.

Minha Linda Senhora, confesso-te que já vivi muitas dúvidas e, de vez em quando, elas me voltam.

Mas também te afirmo que fomos ao mesmo tempo docemente invadidos, de súbito, por esse sentimento indizível do amor que nos causa esses assombros.

E esse sentimento sempre causou assombros, mormente isso acontece quando ele se apresenta com características de verdadeiro.

Eu sei também que tu tens as tuas dúvidas e elas te povoam de vez em quando, mas tu as administras muito bem, acho que isso é de certa forma positivo, pois estamos tratando de um sentimento sério e verdadeiro, por isso ele nos traz preocupações.

Senhora muito amada, eu procuro sempre te escrever com elegância e muita humildade, mesmo porque, tu mereces que seja assim, porque outra ferramenta eu não tenho e ser cortês ainda é uma virtude de que não abro mão.

Se eu pudesse voltar atrás faria tudo diferente, não te magoaria com as minhas dúvidas e tentaria diminuir o peso das minhas palavras, principalmente naquela dita carta.

Não teria sido assim tão árido, frio e incrédulo, quando deveria ser tão somente o prosador de sempre, como ultimamente venho fazendo, pois assim eu me acho muito mais interessante, elegante e portador de uma doce irreverência.

Daqui para frente eu prometo que te falarei mais de amor, e não deixarei que as dúvidas estremeçam o meu sentimento de amor, a não ser que estejamos totalmente enganados, hipótese essa em que não acredito.

O que eu estou fazendo agora é um pedido de perdão, um tanto atrasado, em virtude da minha insensibilidade com que escrevi aquela mal lembrada carta.

Porque te amo agora te ofereço um poema de Pablo Neruda, para ratificar o meu amor por ti que naquela época andava nas sombras.

Eis aqui o meu desagravo e a minha ratificação de amor:

 

 

 

 

 

Pablo Neruda


É assim que te quero amor,
assim amor, é que eu gosto de ti.
Tal como te vestes
e como arranjas
os cabelos e como
a tua boca sorri,
ágil como a água
da fonte sobre as pedras puras.
É assim que te quero, amada.
Ao pão não peço que me ensine,
mas antes que não me falte
em cada dia que passa.
Da luz nada sei, nem donde
vem nem para onde vai.
Apenas quero que a luz alumie,
e também não peço à noite explicações.
Espero-a e envolve-me,
e assim tu pão e luz
e sombra és.
Chegastes à minha vida
com o que trazias,
feita
de luz e pão e sombra, eu te esperava,
e é assim que preciso de ti,
assim que te amo,
e os que amanhã quiserem ouvir
o que não lhes direi, que o leiam aqui
e retrocedam hoje porque é cedo
para tais argumentos.
Amanhã dar-lhes-emos apenas
uma folha da árvore do nosso amor, uma folha
que há de cair sobre a terra
como se a tivessem produzido os nossos lábios,
como um beijo caído
das nossas alturas invencíveis
para mostrar o fogo e a ternura
de um amor verdadeiro.

Eis aí Minha Senhora Muito Amada, a minha defesa e o meu desagravo apresentados pelo meu advogado e mestre Pablo Neruda, pois foi com ele que aprendi a chamar-te de: “SENHORA MINHA MUITO AMADA”.

Agora para que não me julgues com os teus lindos olhos, eu prometo que do meu coração somente ressuscitarei versos para ti e, dos meus olhos, eu sei que ainda verterão lágrimas de saudades, mas dos meus lábios brotarão sorrisos por saber que te amo tanto.

Agora me ocorreu a doce lembrança de como beijavam os teus lindos lábios, naquele setembro que nos será inesquecível.

 

Beijos eternos.

 



 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Eráclito Alírio da silveira
Enviado por Eráclito Alírio da silveira em 13/04/2007
Código do texto: T447747