Estéril
Oh débil e estéril mãe , das tetas arrancadas e rio, vermelho leite a escorrer por entre as entranhas , a derramar-se em choro e dor pelo ventre dizimado.
Tu , que do medo fizeste baluarte e da covardia estandarte de sofrimento e dor ,
que fora antes errante , navegante de escuras águas e tempestuosas agonias ;
que infame e vil entregaste o santuário de tua alma por brilhantes pedras e às pedras foste atirada como um cão.
No silencio agonizante das horas sem lua foste profana ,algoz de ti mesma.
Oque do ventre antes deverias gerar abortaste , e geriste medo e sofrimento insano à volúpia de teus desejos , oh madre santa de covis abutres.
E na insensatez de tuas horas e gemidos loucos , por fim interrompeste o mais maravilhoso ato , o feto que plantaste.
Onde se perdeste divina madre ,antes de se tornar amarga e fria ?
Algures santuários de serenas flores murchas enfeitam teu refúgio atroz?
Busca-te em debilidades loucas justificativas lúgubres à teus insanos atos, oh! divina santa que se tornaste maldita entre os leprosos , escusas ante ao espelho a rogar que ele a justifique e perdoe.
Não sabes quão tolos são seus pedidos de clemência.
Foi o veredito declarado e culpas achaste em teus atos, oh! rosa despetalada.
Maldita sereis pela eternidade e tua condenação não virá de bocas e olhos , antes de tua própria alma que tu arrasta pesarosa e fria a sangrar em noites silenciosas de solidão e angustia. A teus pés serão dadas ordens a que vagueiem errantes pelos caminhos infinitos do desespero e a insegurança e o medo te seguirão ; sentiras o hálito quente da morte fria a soprar-lhe as narinas e teus olhos jamais se fecharão.
Desmedidas cores cintilantes te seguirão em eternos funerais inquietantes.