queria ser o mar
“...como queria tanto ser o mar... queria ser o mar para te sentir dentro de mim a nadar, esbracejando vigorosa e forte em longas braçadas de vida e respiração molhada... para te sentir a pele gotejada da minha maresia em total contorno da tua existência e contínua persistência... para teus lábios beijar com o sal ardente deste meu ser em contínuo movimento que de doirado e sedento se move para dentro... para teu corpo desejar e em ondas te tornar e à minha volta te jorrar quando na cálida areia me espraiar... para sentir o calor intenso do sol me banhar, aquecendo-me para que teu corpo não tremesse de frio ao em mim penetrar... para teus seios ondular na massa informe do meu ser que de moldável e suave permite a ternura em mim nascer... para sentir tuas fortes pernas afastar-me e em desenhos lindos e simétricos vencer a maleabilidade do meu ventre, para sempre... para em gotículas me espalhar na tua vida em crescendo quando nua na praia secas teu corpo ao vento num lânguido movimento... para te chamar e te ver correr para mim, a saltar, como gazela fugindo num monte de alguém que a quer caçar... para te chamar e te sentir mergulhar de braços estendidos e de cabeça defendida, numa entrada sulcando meus sentidos... para te aconchegar dentro de mim e com ternura te abraçar num longo e eterno movimento de loucura... para viver o instante do meu único momento insano na procura do ser que me fizesse ver que mais não sou que o desejo de te ter... e retomado do fim de tanto prazer, depositar-te na areia doce e quedar-me duma vez por todas, ali, parado, para te ver… como eu queria ser o mar...”
Joaquim Nogueira