Caro primo,
Penso sobre muitas coisas. A maioria, sem utilidade alguma.
Penso em como foi descoberto o chocolate, na sensações de pânico diante de um tsunami, em como alguém pode gostar de sushi dentre outras coisas da mesma profundidade.
Ontem pensei sobre a idade.
Vendo fotos recentes de pessoas antigas, me espantei. Na telinha, uma senhora que de respeitável nunca teve muito, se esmerava para parecer a filha da neta.
Uma tentativa desastrosa de manter a discutível beleza consagrada há muito por um título de miss qualquer coisa.
Orgulhosa de sua recente aparência obtida a base de muito cacau, café e bisturi, ostentava o novo rosto ao lado do marido que de caçador hoje pousa de caça, abatido e envelhecido sem nenhum uso dos innéovs da vida, portanto, naturalmente.
Na sequência do dia que já carregava estas reflexões, me deparei com a confissão de outra senhora que aparentando seus 55 anos à base de muito esforço para ser jovial, me revelou que tinha apenas 45.
Que susto! Não pude deixar de pensar na minha própria idade.
Em qual das duas me encaixo?
Confesso... não quero nem ter a escravidão própria da futilidade da primeira, nem a falta de discernimento da segunda.
Também não sou hipócrita. É certo que penso na atuação do tempo e é claro que quero ficar bem à medida que os anos passam. Só não quero perder a dignidade ao ponto de acreditar que posso tudo quando nem aos 18 eu podia.
Porque, primo querido, já dizia uma sábia: a beleza é efêmera. Tão efêmera quanto o poder que ela exerce.
O belo, temeroso de perder o trono, um dia pode passar a cortejar tudo que é menos vistoso, não por vaidade, mas para continuar acreditando que ainda pode.
Muitas vezes, se estrutura totalmente na ilusão da beleza até alheia, pilar maroto, ardiloso, de terra seca que sempre é levada pelo vento.
Neste caso, a linha que divide o patético da altivez é muito tênue.
Isto também não me agrada, compreenda.
Quero, até que meus neurônios sejam consumidos por alguma doença degenerativa, continuar tendo a clareza de quem sou.
Portanto, você que sempre me conheceu tão bem, puxe minhas orelhas e acerte o meu rosto. Não deixe que eu seja tentada pelo ridículo, mas também me oriente quando eu quiser extirpar uma qualidade.
E como o motivo da minha escrita é a idade, me vejo usufruindo de uma das suas inúmeras benesses: chama-se “ não tô nem aí”.
Olha que coisa boa!
Posso, à vontade, refletir sobre qualquer comportamento, até sobre o meu mesmo, sem me julgar por isto.
É quase uma liberdade, veja que coisa.
Então, passada a reflexão inicial sobre tolices e uma vez que compartilhei estes momentos tão sem sentido com você, me sinto melhor.
Vou continuar do jeito que sou e não do jeito que dá, porque isto é conversa de quem já desistiu.
Quanto à você, largue mão de se preocupar com o que está sobre a cabeça, porque o mais importante de fato, é o que está dentro dela.
Com um quase carinho,
Eu.
Penso sobre muitas coisas. A maioria, sem utilidade alguma.
Penso em como foi descoberto o chocolate, na sensações de pânico diante de um tsunami, em como alguém pode gostar de sushi dentre outras coisas da mesma profundidade.
Ontem pensei sobre a idade.
Vendo fotos recentes de pessoas antigas, me espantei. Na telinha, uma senhora que de respeitável nunca teve muito, se esmerava para parecer a filha da neta.
Uma tentativa desastrosa de manter a discutível beleza consagrada há muito por um título de miss qualquer coisa.
Orgulhosa de sua recente aparência obtida a base de muito cacau, café e bisturi, ostentava o novo rosto ao lado do marido que de caçador hoje pousa de caça, abatido e envelhecido sem nenhum uso dos innéovs da vida, portanto, naturalmente.
Na sequência do dia que já carregava estas reflexões, me deparei com a confissão de outra senhora que aparentando seus 55 anos à base de muito esforço para ser jovial, me revelou que tinha apenas 45.
Que susto! Não pude deixar de pensar na minha própria idade.
Em qual das duas me encaixo?
Confesso... não quero nem ter a escravidão própria da futilidade da primeira, nem a falta de discernimento da segunda.
Também não sou hipócrita. É certo que penso na atuação do tempo e é claro que quero ficar bem à medida que os anos passam. Só não quero perder a dignidade ao ponto de acreditar que posso tudo quando nem aos 18 eu podia.
Porque, primo querido, já dizia uma sábia: a beleza é efêmera. Tão efêmera quanto o poder que ela exerce.
O belo, temeroso de perder o trono, um dia pode passar a cortejar tudo que é menos vistoso, não por vaidade, mas para continuar acreditando que ainda pode.
Muitas vezes, se estrutura totalmente na ilusão da beleza até alheia, pilar maroto, ardiloso, de terra seca que sempre é levada pelo vento.
Neste caso, a linha que divide o patético da altivez é muito tênue.
Isto também não me agrada, compreenda.
Quero, até que meus neurônios sejam consumidos por alguma doença degenerativa, continuar tendo a clareza de quem sou.
Portanto, você que sempre me conheceu tão bem, puxe minhas orelhas e acerte o meu rosto. Não deixe que eu seja tentada pelo ridículo, mas também me oriente quando eu quiser extirpar uma qualidade.
E como o motivo da minha escrita é a idade, me vejo usufruindo de uma das suas inúmeras benesses: chama-se “ não tô nem aí”.
Olha que coisa boa!
Posso, à vontade, refletir sobre qualquer comportamento, até sobre o meu mesmo, sem me julgar por isto.
É quase uma liberdade, veja que coisa.
Então, passada a reflexão inicial sobre tolices e uma vez que compartilhei estes momentos tão sem sentido com você, me sinto melhor.
Vou continuar do jeito que sou e não do jeito que dá, porque isto é conversa de quem já desistiu.
Quanto à você, largue mão de se preocupar com o que está sobre a cabeça, porque o mais importante de fato, é o que está dentro dela.
Com um quase carinho,
Eu.