Inconsistência

Querido

Custaram-me muitos dias conflituosos para resolver escrever-te, pois tu sabes tão bem o quanto sou orgulhosa. E tenho fixado na mente a idéia de que é necessário render-se a vontade dos outros, mesmo que está não condiz com nossa verdadeira vontade no que diz respeito aos sentimentos. Dessa forma, eu quis deixá-lo livre para ir e também para voltar quando achasse necessário ou simplesmente sentisse vontade. Penso também que minha atitude egoísta e extremamente ríspida influenciou na sua decisão (assim muito espero), por que muito me magoaria saber que tu fostes embora somente porque não havia mais motivos para permanecer, porque o importante não estava presente. Por isso quero dizer da maneira mais óbvia e exposta possível que não fui sincera quando disse que deveríamos nós afastar, alias foi muito doído dizê-lo e nas entrelinhas tinha eco de um: “Fique, por favor,”. Eu me senti muito ressentida por você nunca ter contato sobre ela e principalmente por você nunca ter gostado de mim como gosta ou gostava dela, pois eu gostava muito de você. E achei que talvez um dia você fosse gostar de mim tanto quanto gosta dela, mas eu não poderia (não queria) dizer isso… porque sempre faltou a certeza de ser recíproco. Quis muito saber o que passava na sua mente naqueles momentos, de que maneira você sempre pensou em mim e se eu havia sido querida algum dia. Acontece que me desagrada sua ausência. Já não consigo mais permanecer em silêncio. E sinto necessário lhe falar pelos meios ao meu alcance que sinto saudades de você, mais de tardezinha do que de manhã… quando o dia termina e sobra aquela sensação de que algo ficou para trás, esquecido, ignorado. E eu fico dividida entre agonia e esperança. Eu precisei de alguns dias para finalmente organizar minha mente, ignorar meu orgulho bruto e escrever aqui com um coração mais seu do que meu. Eu gosto de você por inteiro, sua filosofia de vida, sua bondade, sua doçura… nunca me ocorreu entender o porquê de você nunca ter percebido isso: O quanto é interessante e especial. Nunca reparou no quanto eu gostava de você? Nunca reparou nos meus desejos? Posso ter sido rancorosa e absurda, mas nunca serei inconstante. Por isso permaneço encharcada com o mesmo esse mesmo sentimento meio mágico, meio tolo e claro, contra o bom senso. E dessa revolta interna que só me surgiu que você sempre se rezingou afirmando que as pessoas nunca dão valor a quem realmente as ama, mas isso não é verdade. Eu poderia gostar de você, eu gosto de você. E gosto sem exigir nada, sem pedir nada… e sem esperar nada. Porque não podemos impor o amor a alguém e enfiá-lo goela abaixo. Por isso deixo-te livre para algum dia sentir minha falta, se é que eu realmente faço falta… e para voltar um dia. Despeço-me agora incerta do futuro dessa carta e insegura quanto ao seu amor.

Beatriz L
Enviado por Beatriz L em 13/05/2013
Reeditado em 13/05/2013
Código do texto: T4287911
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