Deboche da carta que não tem destinatário

Querido Ninguém,

Não escreverei uma longa carta, pois não desejo me perder nesta fantasia. É certo que gostaria de estar em épocas de cartas, de escrevê-las, ter o tempo de ler, reler e, surpresa, recebê-las materialmente. O mais próximo de carta que temos é o e.mail. A carta eletrônica... Nem isso mais! Então é por isso, já que não terei resposta, que não me estenderei: e já estou me prolongando neste início. Mas, afinal, o que escrever para ninguém tendo-o denominado querido?

Quero que me leias para que eu não enlouqueça de vez. Quero que leias para ter a possível esperança da interlocução, e não me saber, evidentemente, fictícia.

Querido Ninguém, não há alguém por aqui, e, entenda, preciso de ti. Sei que de mim não precisas, mas ainda assim te escrevo. Talvez eu me precise e, vai saber, mais alguém precise de mim. Teria muito deboche a carta de Ninguém a quem te busco ou que queira por ti ser encontrada? Acho que isso é um deboche em si. Que chegue em ti esta carta. Que ninguém me leia!

Imagine a minha felicidade ao ter uma resposta tua a esta minha carta!?

Eu escrevo porque quero que me escrevam. E poderia ser por e.mail mesmo, reconheço que é o meio.

E daqui partimos do meio para o fim da carta. Estou com a impressão de que essa será a última. Que pena. Não espero que ninguém me surpreenda, mas eu precisava te escrever.

Abraços -

(nada além disso)

Helena Denser
Enviado por Helena Denser em 18/03/2013
Código do texto: T4195254
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