Da Moça daqui, p'ro Moço daí.

Moço, eu não queria. Juro que, em um primeiro instante, tentei resistir, mas esses meus olhos-idiotas-e-de-canela encantaram-se pelos teus olhos-ladinos-e-doces.

Sabe, a cada encontro tento não desviar o olhar, mesmo quando te sinto bem perto de mim - com aquele jeito todo seu de me derreter, me dobrar, desdobrar e te fazer tua - só p’ra não te perder de vista, mas como boa-moça-tímida-e-medrosa que sou, insisto em criar um grande hiato para tentar - mesmo que em vão - frear essa vontade e sede de intimidade; que me arrasta sem que eu consiga deter, só pra que eu não sinta – mesmo já sentindo - que pode ser assim por um bocado de tempo. E bocado de tempo é muito, moço, p’ra quem sorve a vida inteira a cada segundo, e não sabe - nem nunca quis saber - do segundo seguinte.

Talvez - mesmo inconscientemente - eu faça isso p’ra nunca perder essa sensação de borboletas no estômago, como quando na primeira noite em que te encontrei, ou talvez isso seja só uma forma de me proteger de algo maior do que eu, maior do que eu possa controlar, ou muito maior do que há de haver.

Por isso moço, estranho a forma perfeita com que tu desvendas meu corpo, fazes cócegas na minha alma, aceleras meu coração e coras minha face - que não consegue disfarçar o contentamento desses breves e intensos encontros - mas se espanta com tamanho carinho, ousadia e fome.

Confesso, tenho medo de nunca me cansar de querer pousar meu rosto no teu peito-morada, de me perder ao receber teu corpo no meu, e de me derreter em tua boca; porque querer é verbo indefinido quando não depende só da gente, moço.

Digo isto, porque sou feita de chegadas e ainda não sei ser de partida. Embora - quando junto a você - faça do pouco espaço um lugar confortável e de um gole teu, uma vida toda.

Tânia Bispo
Enviado por Tânia Bispo em 05/02/2013
Código do texto: T4125279
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