Nietzsche, trocando em miúdos...
Falando sério, Nietzsche, e trocando em miúdos, o popular ditado revela que "cavaco não voa longe do pau". Mas como me explica um adolescente neto de dois pastores, que quase foi pastor também, tornar-se ateu e abraçar o ateísmo como base de sua "filosofia"?
Nietzche, não me descompense, pois uma vez estudiosa rasa de filosofia, tento entender sua teoria, mas confesso o inconfessável temor dessa compreensão, se você faz do idealismo metafísico foco "às categorias do idealismo e os valores morais que o condicionam, propondo uma outra abordagem: a genealogia dos valores".
Ela se esbarra em valores enraizados há longas era em meu (sub), (in)consciente coletivo...
Nietzsche, permita-me contestar sua verdade para entendê-la... você que pretendeu ser o grande "desmascarador" de todos os preconceitos e ilusões do gênero humano, que aspirou ser aquele que ousa olhar o que se esconde por trás de valores universalmente aceitos, tais como a minha fé em Cristo, e a dos budistas em seu "Iluminado"; por trás das grandes e pequenas verdades melhor assentadas e endossadas como pilares da crença das civilizações; o corpus de ideais que nortearam o rumo dos acontecimentos históricos da humanidade... Enfim, amigo Nietzsche, resumidamente, você rompeu com a moral tradicional (principalmente esboçada por Kant).
Para você, pelo que pude compreender, a religião e a política não são nada mais que máscaras, convenções que vestem o ser humano dentro de uma situação condicionada a interesses. E mais, que escondem uma realidade inquietante e ameaçadora, cuja visão é difícil de suportar, ou seja, o caos das relações humanas, em que as pessoas não conseguem absorver sua verdadeira identidade e se escondem atrás de arquétipos...
Será isso mesmo amigo Nietzsche?
Eu consegui entender sua loucura ou suas verdades desprovidas de máscaras?
Nietzsche, nas imbricações entre verdades absolutas (mascaradas pela fé, cega, irracional, ou simplesmente fé, ou ainda pela política de interesses e embates de classes), o movimento da vontade é a força que gera poder, domínio e novas vontades? Que faz vencidos e vencedores se digladiarem em função de um mesmo interesse, causa, sendo que para cada nova situação, produzem-se novas máscaras?
Sabe, amigo filósofo louco, eu tenho medo de definitivamente arrancar as minhas máscaras e, no final, não suportar a minha verdadeira face...
Fico a pensar se não foi isso o que aconteceu com você... "Será que se vendo no espelho da alma, nu, sem máscaras, não suportou a miséria humana, de ser uma criatura que apesar de ter nascido em um lar protestante, neto de pastores, despiu-se da fé, cobrindo-se unicamente da tênue película de uma racionalidade cortante e pungente. Eu já sei que princípio filosófico não era portanto Deus e razão, mas a vida que atua sem objetivo definido, ao acaso das vontades e confluências de poder entre vencidos e vencedores, e por isso se está dissolvendo e transformando-se em um constante devir. Já entendi que para você, única e verdadeira realidade sem máscaras, é a vida humana tomada e corroborada pela vivência do instante.
Resumindo, sei que para você, Nietzsche, a vida é tudo e tudo se esvai diante da vida humana; e as máscaras, por sua vez, tornam essa vida mais suportável, mas ao mesmo tempo a deformam, mortificando-a à base de cicuta e, finalmente, ameaçam destruí-la. Então, fica a minha mais profunda interrogativa: Se no fim de tudo, as máscaras destroem a base real das verdades essenciais; se o ser humano não consegue suportar a própria face, cobrindo-a com suas máscaras, sendo a vontade o princípio da superação de limites, de barreiras (resumido, a loucura, para o pensamento convencional), qual seria a melhor pedida: enlouquecer à luz da vontade racional, ou continuar nos escondendo atrás das máscaras da fé, do idealismo, da utopia...?
Se o homem é um filho do "húmus" e é, portanto, corpo e vontade não somente de sobreviver, mas de vencer, quais são as suas verdadeiras virtudes? Como vencer sem antes vencer a si mesmo, em sua individualidade irredutível?
Responda-me Friedrich Wilhelm Nietzsche,...
Responda-me...
Irene Cristina dos Santos Costa - Nina Costa,06/11/2012