Cavaleiro dos dias de chuva,
Ontem vasculhava lembranças de outros mundos e de outras épocas.
Retratos, desenhos, recortes, lembranças... Vivi muitas vidas em uma.
Fui menina de pé no chão e de brincadeiras na areia.
Um dia, fui a garota de cabelo espigado, de óculos de aro e criadora de histórias nas tardes compridas da casa dos avós.
No outro, já era a menina de cabelo de corda, olhos de selva, respiração suspensa e coração decidido.
Houve uma vida em que eu fui apenas uma cara cinza.
Na outra, fui dias breves da mais pura primavera, tingida em nuances perfeitos de vermelho e azul.
Já fui atriz, arteira, cantante, viajante, faminta, professora, aprendiz, descrente, falante, errante, persistente, sonhadora...
Já vivi de tentativas e de descobertas.
Já fui filha e fui mãe. Vi a vida pela reconstrução e pela solidão.
Já vivi, toquei e sonhei com quase tudo.
De uma vida, enfim, fiz muitas.
Em todas elas tudo mudou...
Tudo passou.
Exceto algo, senhor Cavaleiro dos dias de chuva...
O meu amor por você.