O amanhã empoeirado

Teoricamente, não era pra termos nascido, ou eu não ter nascido ou quero tentar me incorporar numa pedra. É mas fácil, não que a vida seja difícil, é cansativa, é tal de sobe escada desce escada, felizmente não existe tecnologia para dimensões “diferentes”, seria possível se tivesse um elevador seria mais fácil. É desidratante, apenas descansar desse sobe e desce. Preferível que saltamos, mas cairemos mais adiante. O suor já respinga no resto do meu corpo, meus olhos já começam a ficar cansados, já não aguento mais subir essa escada.

De repente minha visão se apaga... Ouço vozes.

Apareci em um deserto, me lembro dos dias que tive de te engolir, dos dias que tive de contar, das horas que tive de esperar. Aqui está quente, já não sinto meus braços, engolindo mais areia do que mentiras, eu queria ser uma pedra. Não queria falar, nem pensar... Muito menos te encontrar, é duro relembrar do nosso laço, o som do piano já esta ficando longe ou estou perdendo a audição de tanto ouvir vozes, são vozes conhecidas, eles falam em Latim... Mas eu não falo Latim, nunca tentei entender o latim muito menos grego. É possível eu desistir, acho que deveria me jogar nesse monte de areia, deixa-la me enterrar, sem sepulcro, sem cerimônia, apenas o silêncio individual, eu quero silencio... Já ouvi demais, ainda em Latim, eu já andei tanto, mas tanto que ainda acho que isso não acaba, mas será? Será que você ainda me espera? Eu vou andar mais um pouco, se preciso irei correr, para longe ou para perto, eu não sinto cheiro diferente, posso estar em decomposição debaixo da terra, sendo comido por insetos ou queimado na fogueira infernal, a sempre um laço esperançoso no fim. O meu fim nunca terá fim, ele é continuo, eu morro, morremos e nos encontramos novamente, por isso eu queria ser uma pedra, uma rocha bem dura, escondida, quieta. É perfeito.

Você aí, que provavelmente achou este papel no lixo, pode se contentar com meu trajeto, provavelmente estarei em diversos lugares, debaixo de você, posso ser teu marido, teu pai, aquele grande cara que descobriu tudo, o que te vendeu a bússola, eu estou entre todos, ao redor de todos, posso ser também sabe o que? Este papel, ou este olho que o observa. Esse coração que bate e atordoa meu cérebro, eu posso ser tudo, até o rei David, Henrique VIII. Poderiam ser o barco que te levou para busca-la, também um dos seus ancestrais. Até a chuva poderia ser ou os trovões, estou até nos teus sonhos.

De tanto você ser isso para mim, acabei virando o que você é, por você quis ser o tudo, desde ao mínimo ao máximo, desde o comprovado até o mito, já fui até objetos, agora eu só desejo descansar, porque realmente eu acabei me desgastando, não para ser tudo isto, meu sonho era esse, mas você me compreende nada é melhor ou indestrutível como a querida pedra, o ser nunca será eterno, jamais seremos que nem a pedra, ele (a) teve a sorte de virar pedra alguns minutos de sono seria o suficiente para meu consciente eles já estão descansados. E eu aqui no deserto, engolindo areia em um local sem fim. Eu queria ser uma pedra...

Juliano Barros N Martins
Enviado por Juliano Barros N Martins em 24/08/2012
Reeditado em 24/08/2012
Código do texto: T3846972
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