Terapia Para Romeu

Julieta,

Eu escreveria sobre flores, estrelas, amores - correspondidos ou não -, ou, talvez, sobre o seu sorriso e a forma como ele espalhava alegria e paz dentro de mim.

Desculpe-me, mas não sou poeta. Não consigo descrever dor com beleza e muito menos tornar situações difíceis motivo de inspiração pra poesia. Enquanto isso, prefiro descrever o adorável odor azedo do vômito amarelado espalhado pelo carpete do carro. Quero falar de como a sua pele branca parece porcelana desde que você parou de respirar. Por que você não sorriu? Por que você não fez a única coisa capaz de me transportar para a sanidade? Você levou minhas víceras sentimentais, querida. Você levou quando a luz abandonou seus olhos.

"Entre no carro", eu disse. E você, ah, você. Tão meiga e doce, como poderia me desobedecer? Você entrou e eu vi o que você queria. Querida, eu não consegui suportar. Você ficou tão linda. Sua pele de porcelana, ah, a sua pele de porcelana. Você está tão mais sexy desse jeito. Até o sangue seco está perfeito. Querida, fique assim pra sempre. E quando você conquistar as larvas assim como está me conquistando, meu amor, sentirei tanto ciúme. Demore bastante para apodrecer, eu imploro. Fique comigo mais um pouco antes do grande final. Fique comigo até o último suspiro que eu der. E quando eu ouvir o barulho do gatilho, vou lembrar do brilho do seu sorriso. E da forma como ele sempre costumava me acalmar.

Inconsolavelmente,

Romeu.

A B Queiroz
Enviado por A B Queiroz em 23/06/2012
Código do texto: T3739706
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