Minhas memórias
Dia de domingo, depois do sono da tarde.
Hoje um filme passou pela minha cabeça. Lembrei-me dos momentos da minha adolescência já vividos. Não sou tão velho assim, mas às vezes meus 19 anos pesam como se tivesse 40. Cada momento passou à minha razão como se eles fossem vividos pela metade, não sei por qual motivação isso aconteceu, só sei que me deu a sensação de todos os vãos momentos como se retornasse ao Maciel onde fiz meu pré-vestibular, aos almoços no Finesse, aos passeios ao Saldão Maravilha onde todo santo sábado em Itabaiana era sagrado estar, desde meu 2º ano do ensino médio. Como não esquecer as aulas do professor Napô? Explicando da forma mais engraçada o conceito do “super-homem” e da “super-mulher”, nos levando a entender o que era a tal da gripe suína, o que muito tinha afetado o mundo e o Brasil na época. E mais ainda: como esquecer as aulas da professora de literatura Lourdinha? Que me deu um beijo na testa na frente da turma por ter arrumado para ela um exemplar de Boca do Inferno, obra para vestibular da UEPB na época. Sem falar também das aulas de Francisco Soares, grande professor de português. Foi na análise do perfil de um e de outro que comecei a ter a notória ideia que deveria me enveredar pelas Letras.
Mas hoje, não só foi o pré-vestibular “Rumo a Universidade” que tornei a lembrar. Lembrei-me da minha passagem por tantos lugares... das tardes de domingo no nosso grupo de jovens “Sal da Terra e Luz do Mundo”, onde o testemunho de nossa coordenadora fomentava minha fé. Como esquecer as palavras de Dodói? Nosso conversar além-reunião...sobre os Servos de Maria, sobre a Bíblia, e acima de tudo, sobre a vida e suas contradições. Com certeza, aquelas minhas conversas aos 12 ou 13 anos forjaram meu caráter e até hoje me lembro como era bom conversar com minha madrinha de crisma.
E falando em conversar... eu sempre fui um adolescente de conversar, mas não era com todo o mundo, nem com todos! Eram apenas com aqueles que eu tinha confiança e com os que me colocavam pra cima. Conversas e mais conversas com minha professora de ensino religioso Paula Fracinete... conversamos tanto sobre questões da vida, ela foi minha educadora dentro e fora da sala de aula. Foi mãe, amiga, ombro pra choro...
E também não devo esquecer-me das tardes na casa da minha madrinha Silvana. Belas tardes, regadas a falar de política, religião e comer trufas de chocolate com abacaxi.
E eu vivi, vivi bem... mas tive a impressão que esses momentos foram muito resumidos. Pensava que aquilo iria durar, durar pra sempre, durar eternamente...mas a adolescência não é um conto de fadas, mas parecia que eu vivia em um. Eu achava tudo perfeito, tudo bom e acreditava em todos. E mais: minhas fortalezas eram minhas madonas.
O tempo passa, as madonas hoje não são mais as mesmas. E assim me lembrei delas hoje: com uma saudade tão grande, eu queria mesmo era voltar para aquele tempo.
Um romance não realizado, um monte de atividades pra dar conta: naquele tempo eu não tinha nada disso... o tempo era tão devagar... mas hoje é assim.
Me lembro com bastante clareza a noite em que completei 15 anos. Estavam todos reunidos na minha casa, fizeram orações, eu ajoelhado tão contrito as recebia de todo coração. Depois jantaram, e cada um vinha dizer: “meus parabéns”, mas o que se dizia sempre e eu não me esqueço foi “de quinze pra vinte é um pulo”. Foi um pulo com tanta coisa no meio, uma formatura do ensino médio, um passar no vestibular da UFCG, ter morado seis meses em Campina Grande... ter me apaixonado pela primeira vez, ter um romance incompleto, ter ganhado um primeiro prêmio nacional em literatura [mesmo que não foram os do pódio], a descoberta do mundo além-casa... tanta coisa. Estou quase nos vinte e com uma sede danada de viver.
Olhando pra o meu quase passado, ao que eu vivi ontem... quero recuperar o tempo perdido. O dizer amor ao amor, o colocar a vida em risco com desejo de vitória, o não passar o tempo contando as velhas histórias, e acima de tudo, me apaixonar mais uma vez e de forma tão intensa em que tudo possa ser rápido e duradouro.
E quando pegar mais uma vez nessa página amarelada, como o peso dos verdadeiros quarenta, possa eu dizer: “hoje me lembrei da minha adolescência e cada momento passou à minha razão como se eles fossem vividos pela metade, mas a outra metade não foi perdida, eu apenas menti a mim mesmo que estava vivendo pela metade [estava por completo mesmo] só pra ter o gosto de querer mais de mim mesmo e da vida”.