Quase babel.
Sentado à minha escrivaninha, do meu lado
direito, tenho o vizinho que, de um momento
para outro, se santificou;
Os hábitos antigos prevalecem.
À minha esquerda vive alguém que nunca
pude ver;
Só ouço os gritos das crianças mal educadas,
quando apanham.
Ao fundo tenho a família dos ‘eu quero é que
se lasque’;
Entre um churrasco e outro o pai, que nunca
quis saber da escola, tenta alfabetizar as duas
filhas e colocar a esposa na ‘linha’.
Ele faz isto aos ‘berros’ e sopapos!
A vovó, que não soube educar o filho, tenta,
aos gritos e ameaças, moralizar as netas e a nora.
Tenho que comprar cigarros!
Não sei o que vou ter que enfrentar daqui até
o botequim.
Abro o portão e me deparo com a testemunha
de Jeová, que se esforça, em vão, em me provar
que ele é o filho de Deus e que eu, ‘estourando’,
posso ser adotado.
Duas casas depois, o lanterneiro grita palavrões
e se queixa da esposa que não quer fazer sexo
com ele;
Ele vai ter que parar de beber, se não, vai ficar na
seca.
Perco a pouca paciência que me resta e vou me
envenenar com o meu cigarro.
Março de 2012.