A CERCA DO TEMPO

Meu caro poeta João de Abreu Borges, compsitor, csntor.

Tenho cantado muito o tempo e o amo. Quanto mais passa por nós, mais deixa um aprendizado, uma lembrança, uma saudade. Ensina a viver e conviver com as dores e mazelas do mundo. Faz cirando com a gente, ora canta e ri, ora enfurece e esbraveja, chora, blasfema. E creio que ele não desgosta de mim, do velho e repetido cantar. Tanto assim, que vêm-me sustentando numa boa. Em quatro meses fecharei os noventa e dois. Dependo de sua vontade. Por isso mesmo aprendi a ser-lhe obediente. Será como queira. Nasci menino da roça, não cresci muito na vida da cidade. Fui poeta. Uma coisa muito simples com marca e amor e paz, de pensar que o que aqui se realiza aqui se deixa. Ninguém leva fortuna nem luxo, nem parolagem. Tudo fica!

O TEMPO.

Vem o tempo e faz banca em minha porta.

Eu saio, ele prescrutra. Eu entro, espreita.

Comigo se levanta e senta e deita.

Enquanto durmo as faces me recorta.

Leva os cabelos ou de branco enfeita,

as pernas endurece, a espinha entorna.

Encurta a visa e o ouvido, não lhe importa

que indo na rua eu sofra uma desfeita.

Dono de tudo é o tempo. A tudo vence,

tudo gasta e destrói do que se pense,

no seu poder total de eternidade.

Só uma coisa conheço com vitória

sobre a erosão do tempo. Essa é a história,

que se constrói acumulando a idade.