Vai ser difícil sem você
Quando eu sobre do seu acidente, a única coisa que eu conseguia pensar era que não me recordava do que conversamos na ultima vez que nos vimos. Como posso não lembrar? Não lembro se você deu aquela sua gargalhada tão conhecida e famosa, ou se falou puxando o final das palavras. Não me lembro à cor da roupa que estava usando, nem o cheiro do perfume... Como posso não lembrar???
O estranho, é que vou lembrar pra sempre da ultima vez que te vi... E isso ta doendo tanto, ta doendo saber que não cumpri minha promessa. Eu havia prometido que continuaria escrevendo, e não cumpri... O que eu estava fazendo nesse meio tempo que me esqueci de cumpri o que era mais importante? O que diabos eu estava fazendo??? A correria dos dias nos engoliu, mas nada poderia ser mais importante do que pegar o telefone e dizer “estou pensando em você, sinto sua falta”, ou escrever uma longa carta cheia de desenhos na borda e saber que quando você recebesse você iria sorrir e ao olhar os desenhinhos bobos na lateral da folha e pensaria “que lindo mãe” (mesmo sendo simples e bobos – com você, quanto mais simples, mais te encantava). Eu não cumpri a promessa de nos falarmos sempre e isso vai doer pra sempre.
Por falar em carta, encontrei uma cartinha que você me escreveu (com um envelope montado à mão) e ao reler-la uma dor profunda me invade a alma e me rouba a respiração. Li e reli tantas vezes, na esperança de gravar no coração suas doces palavras, seu carinho ali expresso por mim. Na esperança de nunca mais esquecer detalhes tão importantes como o fato de você puxar a perninha do ‘M’ ou de assinar o seu nome meio deitado, meio em pé... Essa carta me trouxe tantas lembranças. Lembranças que eu nem sabia que mais existiam, como quando passamos a tarde inteira, sentadas no quarto de Yuri, numa mesinha junto à janela, fazendo um trabalho de física, ou as tantas vezes que eu me sentei no banquinho no Anchieta, em baixo da janela da sua sala e você me sorriu me encorajando a não me senti uma perdida no meio da sua turma. Ou quando trocamos confidencias sobre nossos pais, sobre o quanto Lalinha fazia falta, sobre como era complicado morar na casa dos outros para poder estudar. Lembre até mesmo de desenhar o seu nome no seu uniforme (nas cores azul e rosa) e em como todos da sua sala quiseram depois. Lembro até mesmo de te chamar de ‘minha psicóloga particular’; de ir almoçar no apartamento minúsculo de Gau; lembro da sua gargalhada que iluminava todos que estavam em volta e de aquecer meu coração (mesmo quando ele estava gelado).
Sabe o que eu não lembro? Se te disse ou te mostrei o suficiente o quanto eu te amo, o quanto você é importante pra mim, o quanto me ajudou, me inspirou, me alegrou... E pensando em tudo, nos quase nove anos que nos conhecemos, eu não consigo me lembrar o que conversamos na ultima vez que nos vimos, e não sei por que isso significa tanto, ou me incomoda tanto...
Ver-te naquele caixão foi....foram tantas coisas que eu passaria a eternidade tentando encontrar as palavras certas. Mais não há palavras certas quando se trata de morte. Só há dor infinita e um vazio que aterra a alma e rouba-nos a respiração, e nos dar uma certeza triste de que um dia iremos nos acostumar com a dor, mais que sempre vai doer, e que mesmo tudo continuando tão igual, será completamente diferente porque você não esta (nem estará) mais aqui.
Quarta feira, dia 22 de fevereiro de 2012. O dia que o céu ganhou mais uma estrela. Uma estrela linda, doce, com um coração tão grande... Um dia em que tivemos que aprender a lhe dar um adeus inesperado, doloroso e cheio de saudades.
.................................................Vai com os anjos, vai em paz.......
Te amo!!! (e não há como conjugar esse verbo no passado, porque amar não corresponde há nenhum tempo verbal; ama-se no presente que estará conosco até a nossa morte...).
# In memorian: Thalita Mell S2
Tx. de Freitas, 23 de fevereiro de 2012