Um lampejo conformista

Acabo por descobrir o que quero e espero, o que busco. E percebo que nisso não há o rebusco dos grandes sonhos. Pois que me criticam porque não sofro em norma culta, porque não li, não ouvi e nem assisti o que se tem hoje por grande monta, por não amar em sonetos nem por falar da história humana em alexandrinos. Saibam que não é de hoje que estou cheio dessa intelectualidade blasé pseudo-moderna, e ainda essa crítica, principalmente de minha parte, é um tanto repetitiva. Não antevejo grandes esperanças nem reformas, mudanças sim, mas apenas aquelas que surgirão menos pelo elevar do espírito humano que por necessidade de sobrevivência ou manutenção das classes dos status. Por um longo tempo me perdi desvalido ante as opiniões e filosofias, massacrei minha mente com julgamentos de uma dita “elevação”, fui cristão, fui ateu e hoje sou apenas eu. Um que busca nada além da supressão das necessidades e realização dos desejos. Bons vivãs uni-vos! Já fui muito afeito a essa regra geral da boa educação, que em muitos, se não em todos os casos, se assemelha a uma espécie de ética burguesa de um cristianismo babão e sem sentido. Hoje gosto de dizer o que me vem, sem grandes enlaces ou escolha de palavras. Não pretendo ser milionário, apesar da idéia ser realmente muito boa. Quero apenas viver. Colocando dessa maneira parece medíocre e até mesmo cômico, mas o que digo é um viver pleno nas coisas mínimas, minhas coisas mínimas diga-se de passagem. Se não faço de conta que milito um marxismo defasado, se não queimo toda a cultura numa incandescente fogueira niilista juvenil e inconsciente, ou se o faço em momentos sim e em outro não, qual é o problema? Até onde pude perceber, todas as afirmações ferrenhas de ideologias que se pretendem como verdadeiras ou por um bem maior, acabam por impraticáveis após um tempo e, com sorte, esquecidas, quando não matam milhares de seres humanos. Que minha felicidade seja plastificada e ilusória, mas que seja minha e plenamente vivida, de resto, o tempo, a natureza humana, e eternidade e a transcendência são termos demasiado vagos e amplos para que me ocupe deles.