Meu coração, tão parvo!

Eu o amava, amava muito. Por ele fiz coisas que não imaginava ser capaz. Atravessei cidades para vê-lo por algumas horas, e foram as horas mais perfeitas que vivi esse ano. Estraguei tudo tentando o conquistar, cometi muitos erros. O coração dele batia por outra garota, e o coração dela batia por ela mesma, enquanto o meu coração quase não batia de tanta tristeza. Dia após dia meu amor aumentava, e meu ódio também crescia, de forma assustadora, infinitamente maior que o amor. O fim era inevitável, ainda tentamos evita-lo, mas de nada adiantou. Acabaram-se as conversas, acabou-se o carinho, terminou uma amizade que já durava anos. Coisa que não aconteceria se não fosse tamanha a covardia de três pessoas.

Deram-me motivos para chorar, então chorei. Deram-me motivos para odiar, então odiei. Deram-me motivos para esquecer, então esqueci. Mentira, pura mentira! Palavras falsas, ações vazias! Não o esqueci! E como poderia? Mas ainda choro, e ainda odeio. Ontem disseram-me: “Se tu ainda o amas, então vai lá perto dele, a outra o deixou, é tua chance!” Mas respondi que não vou. Queria ir, mas durante essas últimas semanas, estive pensando e conclui: Deram-me motivos para tudo, até para desistir, mas não deram-me motivos para acreditar, nem para esperar, nem para lutar. Peguei o que coube na alma, e ainda faltava um bocado para que fosse farta, recolhi-me num quarto frio e fechei a porta. Ali me restavam apenas lembranças queridas, misturadas a memórias amargas, sorrisos entorpecidos e lágrimas doídas. Tornou-se vã a minha insistência em livrar-me daquele amor. Quem ama sabe, que não se ordena ao coração absolutamente nada. É um parvo, nosso triste coração.

Sinto muito, meu amigo, se eu pudesse botava um fim na tua dor. Sei tanta coisa nessa vida, só não sei matar o amor! Eu sei que choras, mas perdoa-me querido, eu não vou até aí, oferecer meu ombro para repousares, consolar-te e ouvir teus desabafos sobre o que se passa entre ti e tua amada. Não vou, e explicarei o por que: Seria incapaz de ver-te sem que meu amor revivesse e se revirasse dentro desse peito pesado que tenho aqui. Seria uma estupides a minha, indagar soluções para tua reconciliação com ela, sendo que não posso sequer pegar pra mim a solução para que a minha tormenta tenha fim. Seria hipocrisia a minha, dizer-te que lamento a notícia. Por mais que outrora não torcesse contra, e tu sabes que não torcia. Por mais que seja lúgubre o descrédito dela, ainda assim tu a amas, e querido, eu sei o que é amar. Então chegamos ao auge de nossas impossibilidades. Não abrirei mão do amor que sinto, embora a antiga amizade me faça falta, nada pode voltar a ser ao que era no início. Lamento, meu querido, lamento mesmo, e acho que tu também lamentas.

Se quiseres, sabes onde me achar. Se me chamares, eu irei. Mas somente se for a tua voz dizendo-me para ir, e a de mais ninguém. Por que, ambos sabemos que, não importa se foi a outra que te deixou, enquanto tu também não a deixares, nada muda entre nós. Teu coração continua batendo por ela, o coração dela continua batendo por ela mesma, e meu coração continua batendo por ti, extenuado. Afogo-me em lágrimas e prossigo meu caminho, carregando meu coração desditoso pelo mundo afora, esperando que um dia, eu lembre de tudo isso e dê risada de mim.