Uma carta sobre tudo, ou sobre nada; se preferir
E novamente me encontro encarando a folha em branco, sem saber como preenche-la. Isso já aconteceu com você? Ter tanta coisa a dizer e simplesmente permanecer em silêncio, tentando escolher as palavras certas, mas elas não vem? Provavelmente sim, então você deve me entender. Quando a história é longa demais, fica difícil saber ao certo por onde começar, por que, não sei se você já percebeu, mas nem toda história começa pela primeira linha, pelo primeiro "oi", pelo primeiro dia... Algumas histórias realmente só começam depois de muitos encontros. Mas afinal, do que é mesmo que eu estou falando, ou melhor, o que é mesmo que eu quero falar aqui? Se você pudesse ver dentro do meu coração agora, certamente enlouqueceria. Tudo está uma verdadeira bagunça. Eu não consigo escutar meus pensamentos, e eles são tantos... Sabe de uma coisa? Seria mais fácil se eu pudesse ignora-los. Convenhamos, teríamos mais momentos de paz se fossemos capazes de tornar mudo qualquer ruído escandaloso que insiste em ter voz em nossa mente. Não seria? Determinadas circunstâncias requerem nossa total atenção, mas somos levados contra a nossa vontade à um universo paralelo, onde tudo é distração. Nos vemos frequentemente obrigados a dar explicação da lágrima que dança sob o rosto, ou do sorriso tímido, ou do olhar distante. Da raiva, não dá? Ter que achar motivo para tudo, só para saciar a fome curiosa daqueles que nos cercam, querendo cuidar de cada detalhe de nossa vida, que é nossa, não deles. É absurdamente ridículo ter que se esconder em qualquer canto que porventura damos a sorte de encontrar vazio para então debruçarmo-nos diante nossa alma despida e deixar que o pranto ganhe espaço e soluços não precisem ser educados, finos, quase mudos... Eu não disse nada, nenhuma dessas linhas transcreve minha intenção; e sinceramente eu a desconheço. Ficarei por aqui mais um pouco, mergulhando nesses sentimentos loucos, abafando meus soluços, procurando motivos idiotas que respondam as indagações inconvenientes que certamente me farão, só para confundir-me ainda mais quanto a esses indefinidos e teimosos suspiros que talvez, não devessem acontecer.