UMA CAUDILHA DOS PAMPAS
UMA CAUDILHA DOS PAMPAS.
23.11.89
Elenita,
Não há muito que fazer por aqui nesta terra de muito antanho, e hoje me lembrei de ti, por isso, estou a te escrever.
De outra forma eu estaria mentindo se te dissesse que estou cem por cento bem, entretanto, esse mal estar existencial é efêmero, portanto, dado a sua mediocridade dou-lhe um lugar sem destaque no meu dia-a-dia.
Incomoda um pouco, é claro, mas isto é só.
A tua ausência foi sentida, pois já orbitavas com muita simpatia a minha periferia. Conheci-te pouco é verdade, mas foi o suficiente para sentir a tua ternura e a tua simpatia.
Gostei muito de ter tido a oportunidade de haver te conhecido, suscitando em nós aquela vontade de alma expressas em nossos “papos”, numa introdução a uma dialética existencial e um ligeiro debate sobre os nossos questionamentos subjetivos, bem como sobre a teorética comportamental.
Aproveito a oportunidade que se me aparece para dizer-te da minha frustração política, frustração essa que imagino ser de âmbito nacional, eu quero me referir ao fato de não termos eleito o Engenheiro Leonel de Moura Brizola para o segundo turno eleitoral.
Isto posto e contrário a minha consciência política, parece que teremos de amargar mais um período negro em que, a Nação Brasileira ficará nas mãos dessa ignóbil classe dominante.
Uma direita obtusa e indesejável sabidamente comprometida com o capital estrangeiro, que não se comprometem com o nosso povo tão necessitado.
Políticos esses que alienam o nosso país, o nosso povo, a nossa soberania e orgulho aos interesses escusos de potências desavisadas. Entenda-se por “Ianques”.
Se não houver uma saída suprapartidária sem a concorrência do calor extremado das ideologias, e para salvar os resquícios de uma nação frustrada, acredito que a solução para este país só virá através das armas.
Com um povo armado, não haverá um exército regular que o detenha.
Esse é o nosso caminho num futuro não muito longe, o remédio para a frustração nacional está na eficácia de uma boa metralhadora.
Agora chega de política!
Vamos ao assunto Jô. Leia-se Josete. Quanto à mesma, digo-te que vai muito bem, continuamos aparando as nossas arestas emocionais que, às vezes, parecem serem difíceis, entretanto, acredito de forma convicta nesse relacionamento.
E tu deves ter percebido o quanto, eu amo essa mulher.
Para a Jô em meus poemas tenho dito que: “Amar é navegar com água e estrelas”, e que, “Sonhar é acordar-se por dentro”, acho que ela não está entendendo.
Eu sei que existe uma distância entre nós, talvez superável, mas ela persiste em residir na praticidade cheia de cuidados dela mesma, e eu com a minha sensibilidade.
Tentamos dosar esses valores com os olhos voltados para um objetivo comum, sem perder a ternura. Assim eu penso.
Às vezes tento reciclar a minha forma de ser, pois crio dúvidas em mim mesmo, sou um poeta, talvez eu me iluda.
Sou sensível, muito emotivo e, essas qualidades temperamentais, às vezes, têm características de defeitos. O fato é que não consigo me mudar, só sei ser eu mesmo.
E se teimar em me mudar, será uma violência estúpida cometida contra mim mesmo.
Quanto a Mary: temos nos avistado sempre e conversado muito pouco, é claro, mas pelo que tenho sentido ela parece estar muito bem com o Jader e com ela mesma, aliás, o que faz muito bem.
Quando tirares outras férias, por favor, não deixes de vir aqui, prometo que acharei mais tempo para ti.
Conversar contigo é muito agradável, dessa vez não te dei muita atenção porque me achava ocupado com outro objetivo, também maior.
Elenita eu desejo de todo o meu coração que, os teus sonhos saiam do mundo inconsciente e passem realmente a existir de forma concreta em tua vida.
E que os sonhos, esses loucos, sejam para ti visíveis, audíveis, palpáveis e, acima de tudo, vividos com toda a intensidade emocional.
Aliás, tu bem mereces e eu torço sinceramente por isso.
Acredito que a Jô faria os mesmos votos, não disse para ela que ia te escrever, mas vou dizer-lhe, pois preciso do teu endereço para apor no envelope, assim estou falando em nome dela com toda a segurança.
O Jorge está aqui me enchendo o saco como sempre, e aproveita a minha vontade de te escrever para também te mandar um grande abraço. (sem desbunde)
Um abraço deste teu amigo que fizeste sem querer.
Um abraço quilooooooooométrico.
Eráclito.