FUGAZ CAUDILHA
FUGAZ CAUDILHA.
Imaruí, SC abril de 1989.
Arquiteta Maria Inês Bay Frydberg,
Faz já mais de um ano, e muito fartamente tenho me lembrado do teu jeito brejeiro de ser e da tua meiguice esquerdizante.
Lembro-me também do Jorge (raramente é claro), da sua barriga burguesa bem vestida com a sua desperdiçada cabeça socialista mal coberta.
Quanto a mim - continuo fazendo versos.
Vivo versando o óbvio, escrevo coisas e coisas para dar sentido novo e real a teorética da vida, essa complexa poesia do existir.
Tenho saudades de vocês (Inês e Jorge), também do Marcos um urbanista poeta e saudades muito em especial da Doutora Tânia, essa morena linda de cor abrasileirada que já sobrevoou alguns poemas neste meu exílio em confinamento literário.
Minha sina é fazer poesia, uma maneira subjetiva de amar o amor, esse sentimento que há muito vinha destroçando os meus valores práticos ou construindo. Não sei!
Esse rio invisível que corre dentro de mim, tem me levado a crer que as pessoas de um modo geral e muito em especial as mulheres, logo elas, gostam de se sentirem mal amadas.
Tentei provar isso em bases sólidas para uma delas.
Olha no que deu!
Acho que ela se apaixonou por mim, e eu me apaixonei por ela. Isto é certo.
Minha tese foi vencida e submetida a um lacre silencioso, isto é, com a doce efemeridade de um beijo.
Pensei não mais possuir a disposição para o amor (namorar e seus acessórios), entretanto, me redescobri com coragem e encontrei em mim um velho menino que adora mandar flores e fazer poemas para a mulher amada.
Um verdadeiro ensaio poético intenso. Um idílio empolgante.
E assim, do alto do quadragésimo sétimo andar do estruturado é difícil da minha existência, vejo na ante-sala da minha vida, um espaço cheio de brumas, e nele, perdidamente perdido um menino velho que não sabia amar.
Hoje já quero morrer amando.
Um abraço aos que abaixo menciono. Se ainda habitarem a tua simpática periferia.
-Ao Brito, uma verdadeira extensão do capital estrangeiro.
-À Denise, uma secretária de linda voz e atributos mais.
-Ao Caio, um perfeito marido com todo o caimento.
-Aos desenhistas, as sombras dos teus projetos.
Para ti minha querida amiga de sorriso triangular que lembra a França, a vida, a LIF (Liberdade, Igualdade e Fraternidade), o meu desejo ensimesmado de felicidades, também um abraço rico no rico socialista Jorge.
Se virem o Dr.Clóvis, também um abraço para esse moço velho que ainda não conseguiu harmonizar o trabalho e o capital.
Quero vocês todos muito bem!
Eráclito.