SIMPLESMENTE UMA CARTA.

 

 

 

Imaruí, SC, 14 de agosto de 2006.

 

 

 

Linda Chandinha,

 

 

 

Hoje, eu quero escrever para ti uma simples carta, assim como o nosso sentimento é simples, também será simples a forma de me comunicar contigo.

Mesmo porque, Minha Querida Chandinha, eu sou simples, tão simples que chego a ser simplório e, se às vezes chego a usar vocábulos estranhos, é porque eu sou assim mesmo: Complicado.

Mas hoje eu prometo que serei simples, assim simples como são as coisas da vida.

Por exemplo: O meu amor por ti é um sentimento simples e, por uma conseqüência de ser simples, eu ou os meus sentimentos não querem nada de ti, a não ser a reciprocidade nesse mesmo sentimento.

Eu pretendia escrever uma cartinha simples, mas pelo jeito vai acabar se complicando, pois quando estamos tratando de sentimentos, assim como o nosso, a gente acaba querendo explicar o inexplicável.

Viste como já complicou tudo?

Minha Linda, nesses meses em que, nos relacionamos tudo foi descomplicado e simples, e por ele ter tido essas duas características foi, sem sombra de dúvida, muito sincero.

É na simplicidade que encontramos a sinceridade e a transparência, pois se fossemos hipócritas já teríamos naufragado em nossas próprias contradições.

Querida Menina, eu sou tão simples que confesso, sou também muito pobre, nada tenho e nada quero.

Apenas quero a ti, não como uma propriedade, mas exijo a ti para complementar esse amor que tu mesma fizeste surgir em mim.

Portanto, se te quero não é um egoísmo de minha parte, mas sim, eu te quero porque tu fazes com que eu te queira assim.

Minha Linda, eu não quero complicar, mas a cartinha vai se complicando sem a gente querer.

Queres ver uma coisa?

Se eu estivesse ao teu lado, não seria assim tão complicado. Sabes o porquê?

Por que eu te daria um beijo, te faria um carinho, e assim, estaria tudo explicado sem complicação.

Minha Chandinha, às vezes o tato é mais importante do que imaginamos ou, diz mais do que mil palavras.

A alma por ser um evento não-físico, impalpável e metafísico, tem lá as suas dificuldades em se expressar.

Por isso ela lança mão do tato, do olhar, do sentir-se bem e do querer bem, para se comunicar e dizer para a sua alma gêmea que a ama também.

Meu amor, isso é meio complicado, mas é verdadeiro.

É lógico que se eu estivesse contigo, não diria tudo isso.

Porque eu te abraçaria com muito carinho e amor, e tu entenderias perfeitamente que te amo e que te quero.

Querida e linda Chandinha, eu juro para ti que não quero complicar, mas tu podes ver que esta cartinha vai ficar complicada.

Agora, Minha Chandinha, eu não sei se tu hás de me querer nesta simplicidade.

Eu sou muito simples, mas o que eu tenho de especial é a minha personalidade, pois eu sou um introspectivo, irreverente, questionador, clássico, meio erudito, poeta romântico e com uma atenuante maior que é a de ser um vassalo do teu amor.

Isso é o que me faz diferente!

Ou melhor, foste tu que me fizeste assim.

Tu podes tudo, mas eu tenho lá as minhas dúvidas se eu posso vir a ser o teu tudo.

Ah, hoje eu anexei uma pequena cruz.

Sabes o porquê?

Por que eu acredito que enquanto tivermos essa cruz como símbolo da nossa fé, nós teremos ombros para carregá-la se estivermos juntos.

Chandinha Querida, agora com essa última frase aí em cima, surgiu uma outra de muita importância que é a seguinte:

O que está nos envolvendo nem sabemos ainda o que é.

É lógico que existe algo entre nós dois, mas ainda não podemos dizer exatamente o que é.

Pois Minha linda, a nossa mente é capaz de criar situações até mesmo irreais, por isso, às vezes, temos dificuldades em explicá-las, porque podemos estar fazendo ou criando uma fantasia para amenizar ou sufocar as nossas carências.

Tudo pode ocorrer, inclusive, o que está acontecendo conosco, pode ser uma necessidade subjetiva que alimentamos, e que, um satisfaz o outro nessa forma virtual.

Explico-me melhor:

Como nós dois somos duas criaturas solitárias, mais ou menos sofridas e não temos uma amizade mais íntima ou não confiamos numa amizade íntima e, dado a essas características, nos completamos de forma virtual, sem sabermos como isso poderá ser administrado numa forma real.

Somos íntimos, parecemos que somos íntimos, mas estamos tão longe um do outro assim como o Pólo Norte está do Pólo Sul.

Parece que eu estou sendo pessimista, mas não é verdade.

Na verdade, eu estou sendo realista, e isso tudo só vamos poder dizer o que é e o que realmente está nos envolvendo, quando Setembro chegar e a primavera nos envolver.

Não podemos dispensar o contato físico, pois é somente através dele que poderemos projetar alguma coisa para o futuro ou, enterrar tudo num passado fresquinho de nove meses, descobrindo assim que, fomos traídos pelas nossas próprias carências que não foram bem resolvidas.

E se for isso mesmo Minha Chandinha?

Eu, de minha parte, acharei que valeu a pena, pois nesse período de nove meses, demonstramos um para o outro que, apesar dos pesares, ainda temos bons sentimentos em nossos corações.

Eu não acredito nessa possibilidade, mas como tudo o que está ocorrendo conosco é inédito, temos a obrigação de pensar em todas as possibilidades.

Estamos fazendo tudo corretamente, mas em Setembro saberemos se o nosso correto era exatamente o corretamente que queríamos ou, estávamos sonhando apenas com uma utopia paradisíaca.

Eu pelo menos penso que estou te querendo corretamente, eu sei que posso estar enganado, podemos estar nos enganando.

Mas diga-me Minha Querida Chandinha, será que estamos nos enganando com tanta autenticidade que nem percebemos?

Esta cartinha eu tinha prometido que seria simples, mas acabou ficando mais complicada do que as anteriores.

Entretanto, eu estou buscando uma coisa maior que existe entre nós, que, de tão doce e encantadora nos parece uma fantasia, miragem ou sonho.

Aliás, tudo o que nos envolve é bom, é um sonho, é encantador, se assim está sendo, tomara      que em Setembro continue assim, e que nunca acordemos desse sonho lindo.

Simplesmente eu quero te dizer o seguinte: Se não estamos enganados e não estamos sonhando, isso é sinal que nos amamos e, como nos amamos desta forma, assim nos assustamos.

Eu ainda vou te beijar sem susto.

 

Eráclito.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Eráclito Alírio da silveira
Enviado por Eráclito Alírio da silveira em 07/12/2006
Código do texto: T311758