A MINHA DOCE NAVE.

 

 

Uma cartinha on-line.

 

 

Simbolismo.

 

 

 

“Sou feliz por tudo de bom que a vida me oferece”.

 

 

 

Esta frase estava escrita nas laterais da proa de certa nave que, um dia, vi atracada num determinado porto.

Acredito que esse porto imaginário tenha sido totalmente virtual, mas a nave que estava atracada nele era por demais real.

Fui atraído pela frase inteligente da proa, e querendo conhecer melhor os seus mistérios, subi a bordo e naveguei-a por sessenta dias.

Foram dias admiráveis e inexprimíveis!

E dado as nossas suscetibilidades, nos irmanamos num sentimento indizível por excelência, blandicioso e cativante.

A bonança desses dias nessa viagem era constante e inefável.

É verdade, houve dias de tempestades que fizeram com que perdêssemos a rota, durante noites de silêncio e de grandes expectativas.

Houve um retorno da calmaria, neste regresso calmo, compus cem poemas e vinte canções para a minha doce nave.

Num domingo com a minha nave calmamente ancorada, lhe compus cinco poemas novos.

Talvez estivesse sofrendo um surto de clarividência.

Foram poemas desesperados num domingo de verão.

Nessa viagem de sessenta dias consegui penetrar na sentina dos seus porões (inconsciente) e, constatei que a minha doce nave, estava comprometida ou acorrentada a um outro marinheiro.

Não foi uma traição, mas me senti traído, porque ela me dizia as coisas mais lindas do mundo, dava-me até abraços gostosos, fazia voar beijos e jurava me amar.

E eu me sentia amado e achava que ela era só minha.

Até agora, ainda não entendi porque a minha doce nave tem um marinheiro a bordo, e diz que eu não vou entender.

Porque será que ela tem esse navegante?

Talvez, eu não entenda nunca, sou muito exclusivista e a exclusividade é uma virtude minha e dela sou exclusivo até a raiz.

Assim sendo, entendi que não posso mais navegar a minha doce nave e nem vir a conhecê-la pessoalmente, pois as virtudes que penso existir nela poderão se desfazer.

Isso é paradoxal, mas é bom!

Assim, pretendo mantê-la em meu coração e na minha alma de forma ausente, mas carinhosa, meiga, linda e sorridente.

Será um sonho para ser sonhado constantemente, principalmente nas horas nuas da minha vida.

Isso não é uma despedida, apenas estou mudando o rumo da minha doce nave, para que, ela permaneça atracada em meu coração e navegue os meus sonhos perdidamente loucos.

Amar é navegar com água e estrelas, minha querida e doce nave Glauci!

 

Eráclito.

 

 

 

 

 

Eráclito Alírio da silveira
Enviado por Eráclito Alírio da silveira em 04/12/2006
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