Um grito!!! Queria ter voz de bicho! Carta Aberta aos que lutam pela valorização da vida.
Meus caros,
A mim entristece tanto a miséria humana, que chega a doer o peito!
Crianças com fome, gente sem médico, escolas ruindo, alunos e professores tristes, pessoas sem casa... Por isso gritamos, protestamos e alguns de nós nos organizamos para exigir providências imediatas e sonhamos com a chegada de soluções o mais breve possível.
Hoje, entretanto, gostaria de lhes falar em nome daqueles que não podem falar por si. Daqueles que sofrem esquecidos, sem mesmo saber a razão.
Gostaria de emprestar a minha voz e a minha indignação aos milhares de animais abandonados, torturados e mortos pelo ódio do predador mais implacável do planeta.
Gostaria de gritar no seu lugar!
Rugir de raiva, dor e medo, pelo leão chicoteado, desnutrido e desidratado, cuja majestade foi destituída pela ganância e ignorância humanas.
Quero guinchar de desespero pelo macaco enjaulado e faminto, vestido com ridículos trajes, obrigado a demonstrar caricatura humilhante de humanização diante de uma platéia de sorriso sarcástico.
Quero bramir pelo elefante gigante encurralado que, ferido, torturado e humilhado, tomba por fim sem forças.
Gostaria também de chorar por aqueles que cruelmente abatidos, têm suas cabeças e corpos expostos como troféus de funesto orgulho.
Chorar por aqueles que morrem pela mão da ignorância. A mesma que os transforma em adorno profano a trajar a vaidade mórbida de mulheres e homens sinistros.
Chorar pelos crivados nos mares em nome do dinheiro, do poder e da ilusão torpe de progresso.
Gostaria de gritar de raiva pelas aves que nossos filhos nunca verão, por aquelas aprisionadas, por aquelas que armazenadas como mercadoria barata, chegam mudas, doentes, ou mortas às garras de seus algozes.
Gostaria de entender como é possível que nós ainda vejamos cães e gatos abandonados nas ruas, enfermos, esqueléticos e maltratados, quando deveriam estar protegidos em abrigos, recebendo tratamento digno e carinho, à espera de novos corações que os acolham.
Gostaria de aprender com o leão, o elefante, o lobo e a águia e gritar bem alto e dizer que as coisas não podem continuar assim.
E gostaria, principalmente, de ser ouvida pelo cidadão comum como eu, pelo político, pelo magistrado, pela autoridade.
Lembre-se, entretanto, que esta aqui não é a minha voz. É a voz que ora empresto ao desespero e à dor daqueles que não podem falar por si próprios ao homem, o mais temível predador!
Desejo, ainda, observar que o tempo urge na mesma proporção em que pode extinguir-se a vida.
Finalizo assinando em nome dos que já tombaram e dos que ainda têm alguma chance de sobreviver apenas se esses e outros gritos forem ouvidos a ponto de alcançarem corações e precipitarem ações imediatas.
Paz e bem!
Jane Coube Simões,
26/04/2011