Do fim
É muito triste ver que o amor que eu te tinha deixou-me. Deixou-me, sem força nenhuma de voltar, sem bilhete de aviso, sem sinal fechado no semáforo desajustado de nossas vidas, que me desse a chance de mendigar na tua janela, batendo batendo no vidro, quebrando-o, sangrando minhas mãos... é triste ver que já passou da hora, que eu já não te olharia com os mesmos olhos de adoração com os quais te encastelei outrora, é triste ver-te afinal, com todos os defeitos tão feios que tens, sem as tuas máscaras, sem aquele olhar encantado com que te seguia, admirada de tantas falsas riquezas.
Um solo de batera invade o meu pen drive e sinto como se o fantástico fenômeno morto no próprio vômito estivesse fazendo a minha cabeça de pandeiro. Fuck. Nem escutar a minha banda predileta em paz sem lembrar da porra de você. Como se ele estivesse gastando as baquetas na minha cachola. Como se estivesse surrando os pratos dos meus ouvidos com as palmas espalmadas das mãos sangrentas ressoando no meu interno interior. E aí me lembro de outros solos, de um violão que você certamente vai trocar, como trocou o nosso tudo por uma pseudo segurança, por sua falta de paciência, por seu medo, por seu orgulho, por sua adolescente fobia de tudo que saia fora do seu normalzinho cotidiano besta. O gato em cima da minha barriga sobe e desce ao ritmo alterado do meu respirar. O gato desce e enrosca seu maldito rabo na minha coxa e me faz lembrar algo odiosamente saudoso. Gatos e homens só fazem carinho quando querem comer. Seu olhar carinhoso e falso pra mim e pra todo o resto das possíveis possibilidades femininas. O seu direito adquirido de macho. O seu odioso teatro e o meu tempo perdido. Meu dinheiro posto fora. Um assassinato. Dois. Meu tesão que lá se foi. O respeito que me devia e que se perdeu em alguma paranóia sua. Só pra você entender que de fato não sou como as suas tantas outras, que aqui o negócio é mais embaixo, aliás bem mais embaixo que você imagina. Você debaixo do meu pé. Meu pé no seu pescoço. A sua antiga espada em riste (aquela que você queria levar de volta, lembra?) na mesa bem guardada junto aos meus cristais. Meus comandos à lua cheia. O seu castigo que, se for por mim, há de ser eterno. A minha lança no seu lado esquerdo. A justiça, de mim e de outras tantas que você ainda intenta enganar com aquela sua foto de há dez mil anos atrás. A sua feiúra interior que acabou com a sua beleza externa. O tanto de chifres que não te botei e o tanto que ainda vai tomar por ser assim tão incapaz. Justo merecimento. Reza, meu. Nem toda reza do mundo te salva, já que você não crê de verdade e com Eles o teu teatro e o teu fingimento não funciona. E vê se aprende e não se meta com uma deusa outra vez.
Moby Dick - Led Zeppelin