Gaveta de lembranças
E lá fora a chuva cai.
No quarto, com o computador ligado, presto atenção ao tiquetaquear do relógio de bailarinas tristes. A gata toma seu banho antes de se aninhar na cama para dormir.
Com olhos cansados tento prender minha atenção ao site de pesquisas. Minha mente arruína tudo quando começa a me mostrar a realidade.
Estou cansada, exausta de ver minha vida passando lá fora enquanto fico aqui esperando coisas e pessoas que nunca chegam.
Estou vivendo no lugar errado, na vida errada, está tudo ao contrário do que deveria.
O mundo está de ponta cabeça!
E a minha cabeça dá voltas, é como se o mundo ao meu redor estivesse girando. Fico tonta. Prendo a respiração. Fecho os olhos. Suspiro.
O passado vem à tona e mergulho nas lembranças há muito tempo intocadas.
Simplesmente deixo que a velha gaveta empoeirada se abra e passo os olhos sobre os velhos arquivos me prendendo rapidamente em um ou outro fato.
Revejo fotos, cartas, sentimentos, ouço as risadas e sinto os cheiros, sorrio pro passado. Depois abro a gaveta dos esquecidos e sepultados e, é nessa hora que me arrependo de ter mergulhado nessa piscina de água negra e turbulenta.
A pior coisa é quando mergulhamos de cabeça no que já foi adormecido, pois de uma forma ou de outra tudo volta à vida.