Gravidade

Maceió, 11 de abril de 2011.

Meus queridos,

É hora de desafiar a gravidade. Sim, permitam-me informar, a quem interessar possa (ou não) que voarei para longe de vós, sem barulho, sem rufar de asas, sem alaridos.

Deixem que eu coloque minha cabeça à frente do coração, esse poço de amor e misérias, de ódios e sentimentos vãos. Só por educação aviso, sem pedir vossa permissão, para fazer o que farei, para pensar e ser quem desejo, queiram ou não queiram.

Sim, é hora de desafiar a gravidade e soltar-me inteira no espaço vazio além das vossas formas, além das coisas, além dos vossos dramas.

Eu não quero mais dramas, nem os pessoais, nem os que sou chamada a participar, sem compreender.

Por que não compreendo vossos dramas, vossas lágrimas, vossa necessidade imperiosa de formar estratégias, de armar canhões, puxar punhais. Vossas estratégias, vossas alianças e traições.

Eu não vos compreendo! e nem desejo fazê-lo. Cansei de vossas vozes, palavras, lágrimas, caratonhas...eu não vos vejo mais, em lugar algum, nem desejo fazê-lo, Sei que existem, vivendo no limbo frio dos vossos gritos, como animais num cio insatisfeito. Não entendo vossa vida, vós não compreendeis a minha; arrependo-me, amarga e imensamente, de tentar compreender-vos e de tentar fazer-vos compreender a mim.

Sim, meus queridos, vou desafiar a gravidade e partir daqui para o mais além de vós.

Vereis meu corpo, esse escravo da terra, estarei viva, mas a minha alma não mais estará entre vós. Estarei tão longe, tão além dessas vossa mesquinha realidade, tão distante desse vosso barro pegajoso, que perdereis de mim o desejo e a vontade. Estarei aqui, mas também onde não me podereis alcaçar, nem as vossas vozes poderão me tocar.

Deixo-vos meu adeus e nenhuma saudade.

Satisfeita e viva e nunca mais vossa,