Aulas
Tudo por aqui está bem pacato. Poucas e produtivas aulas. O professor vem dar aula de chinela havaiana, os pássaros cantam em nossa janela. O sol matinal não faz arder a pele, dá apenas uma aquecida gostosa de sentir. Aqui a faixa de trânsito é respeitada. Defronte a minha sala tem uma árvore frondosa. Cães e gatos dividem o espaço conosco , brincam e vêm pedir dengo. Paro para pensar o quão é esquisita essa situação, reflito e vejo que esquisito era estudar em uma gaiola de quatro andares em meio a um trânsito caótico, poluição, barulho, stress.
Minha qualidade de vida aumentou; no intervalo tem pão de queijo e tapioca quentinha, no almoço tem um feijão gostoso e , apesar desse ambiente aconchegante, as pessoas transitam pelos corredores sem dar ‘bom dia’. Parecem tropas marchando para a guerra. Guerra do conhecimento? Guerra do mercado de trabalho? Sou muito nova para lhes responder. É nessas horas que sinto falta daquela perguntinha que parecia tão banal: “O que você está pensando?” Essa pergunta que por vezes me fez corar as faces. Parecia ser tão fácil responder; aquilo que eu queria comer, o medo que eu estava sentindo, o sonho da noite passada. Ninguém me pergunta o que eu estou pensando, nem eu, equiparo-me a todos. Estou perdendo a essência ou me adequando ao mundo? Todos têm algo a dizer, mas a maioria das pessoas nunca ouve.
Aqui os professores nos ensinam a sermos bons profissionais, mas temos que aprender sozinhos como sermos boas pessoas. E apesar da natureza próxima, soprando-nos um ventinho que dispensa condicionadores de ar, ninguém amolece o coração. Ah, queridas! Ainda insisto em dar ‘bom dia’, em mexer no cabelo da amiga, em chutar os gatos. Ainda insisto em sustentar um oceano no peito.