Passeio
Resolvi caro leitor, cara leitora amiga, escrever uma carta a quem possa enteressar. Nestas traçadas linhas escancaro o que mascaro muitas vezes. Nem sempre a inspiração que me toma, é a inspiração que vai envolver e entreter quem tiver a ousadia de descobrir o que quero revelar. O que me aperta o peito e me comprime a alma, dilacerando-me por dentro e marcando-me por fora.
Não compreendo como pecado e pecador, mas como vítima e opressor, como quem comete erros, tentando acertos, como quem tateia de dia como se fosse sempre noite. Em busca, em busca e sempre em busca. Em busca do brilho de outrora, da leveza de antes,da autenticidade e pureza da infância, já esquecida, perdida, esmagada por uma memória estagnada, atrofiada e fosca.
Um recondito escondido por anos se abre aos olhos de quem quiser ver, de quem conseguir chegar ao âmago de minha alma. A tristeza de uma escolha mal feita, a dor de uma inquietação perturbadora, a irresponsabilidade da descoberta de uma vida falsa e inescrupulosamente povoada de seres medíocres, maus e insensíveis.
Nula é a vez em que conheci um homem que eu pudesse valorizar em razão da dignidade que lhe é intrínseca. Rara foi a vez em que eu não me decepcionasse ao deparar-me com uma espécie que se diz evoluída, intelectualizada e humanizada.
Varios desdobramentos se fazem acontecer sucessivamente em minha mente a respeito dos acontecimentos que eu participei em presença de seres que eu jamais diria serem evoluídos, contrário. Nunca consegui pautar um diálogo, sem que a relação com esses indivíduos,resvalasse em vários conflitos, e todos desgastantes, sucumbindo-me a vontade de permanecer, de existir de fato.
A dignidade, pelos mesmos, sempre foi esquecida ou colocada em segundo plano, e eu sempre a coloquei como prioridade. A prática da humanização deve ser observada
ininterruptamente por cada um de nós. O comportamento ético deve ser o princípio de vida da organização, uma vez que ser
ético é preocupar-se com a felicidade pessoal e coletiva, mas o que sempre vi foi um egoísmo, um egocentrismo alarmante no machismo vigente e cego dos homens.Uma valorização exacerbada no que diz respeito ao corpo físico, a matéria. Saber ouvir o outro e colocar-se no lugar desse outro a fim de compreendê-lo deveria ser a regra vigente entre eu e os outros, mas não é, definitivamente não é possível que assim seja.
Confesso que hoje até eu sou um ser intolerante,falta-me habilidade ou vontade em reconhecer e respeitar as diferenças , pois não usufruo mais de um sistema de nervos moderadamente saudável, quem dera perfeito.Revelar nesta carta que vivo uma vida de sofrimentos, e que os mesmos existem por eu ser fraca, preguiçosa e acomodada não me agrada, mas resolvi ser sincera ao extremo. É como se eu quizesse de fato testar minha autenticidade e hoje minha maturidade.
E é minha maturidade que me leva a escrever finalizando mais uma vez, como em milhares de textos que já escrevi, pautada sobre minha inspiração, que atribuo como um dom divino, revelando que o meu segredo é não crer no ser humano como imagem e semelhança de Deus.