Ser pai na terceira idade

BsB, 12/01/11

Grande e querido amigo, quanto tempo não lhe escrevo uma única palavra! A vida é mesmo uma grande metamorfose: quando pensei que estava estabelecido e com todos os sonhos realizados, eis que surge um fato que me leva a acreditar que sou tão grande quanto o que vejo e, agora, sinto.

Você não pode acreditar na felicidade em que me encontro, parece que comecei a andar ontem e que Deus me deu mais uns cinquenta anos de troco para que eu possa lhe contar todas as histórias da Maria Clara. É verdade que ela ainda nem nasceu, mas já tenho histórias para contar e recontar pra você e para os meus futuros netos. Você certamente vai ficar pensando que sou um louco, esta loucura, para mim, é divina. Desde sempre acreditei que sou mesmo um desengonçado, mas minhas outras filhas, não pensam isto de mim. Até acham que sou muito certinho. Um dia desses, mesmo sob protestos das duas, deixei o cabelo crescer por um bom tempo, só o cortei quando descobri que o nenê era do mesmo sexo da mãe, que não para de falar: “como minha barriga está crescendo!”

Ontem fomos para mais uma consulta de rotina. Fizemos “n” perguntas, algumas até estapafúrdias. O médico, Dr. José de Ariquemes, respondeu uma a uma com a maior serenidade possível, às vezes fazia piada com nossas inseguranças. Lá pelas tantas, quando não tínhamos mais perguntas a serem feitas ele virou para mim e perguntou: “quantos anos você tem?” Respondi que tenho 63 anos, no que ele arrematou de pronto: “quem diria... fazendo filho até hoje, você está ótimo!”. Confesso que fiquei lisonjeado.

Meu amigo, ser pai é como ter a lua em nosso quintal todos os dias, chova ou faça sol. Mas ser pai na terceira idade é como sorver o mel da Flor, todas as noites, como se esse fosse o único alimento a saciar nossa alma enquanto nos sentimos verdadeiramente um ser particular – ímpar. É como se houvesse uma explosão cósmica onde beija-flor e flor se dividissem em um terceiro ser e este novo Ser fosse como o primeiro e o segundo, em todas as suas particularidades.

Ah, viver é sonhar-me eternamente Pai.

Um grande abraço, fui...

Pedro Cardoso DF
Enviado por Pedro Cardoso DF em 12/01/2011
Reeditado em 04/12/2022
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