UMA CARTA DE DOR A TEREZA

UMA CARTA DE DOR À TEREZA

Ah! Tereza... Se toda dor fosse igual, talvez a que eu estou sentindo não fosse tão dolorida. Se essa dor fosse como a do provador de vinho, que ao abrir a garrafa deixa cair a rolha dentro do cálice; se quando o jardineiro fosse escolher a mais linda rosa no jardim e um dos seus espinhos o ferisse na mão ou se uma carta de recomendação à um emprego não fosse aceita pelo novo empregador, acredito que seria muito fácil de aceitar ou me esqueceria dela dentro do tempo. Acharia graça desses contratempos nos dias de hoje, pois com certeza já os teria superado e seria mais por uma falta de experiência que aquilo tivesse acontecido.

Mas a dor da saudade é diferente. Não é por falta de experiência que ela acontece, nem porque o alinhamento dos planetas não estão de acordo com o mapa astral, nem porque a camada de ozônio está mais rarefeita na atmosfera. Ela existe porque você não está aqui! E isso é um fato tão marcante que não tenho como disfarçá-la, modificar, mudar de lugar, comprar um vaso novo, um passeio no shopping ou uma viagem que eu ache que seria inesquecível. Não Tereza! É a dor da saudade, do vazio, da falta da sua sombra, do seu olhar, do seu sorriso alto, do aroma do creme que você usava após o banho e que quando eu ia ajudá-la você lambuzava o meu nariz, num gesto de carinho.

É dessa rotina maravilhosa que eu sinto falta. Lembra quando amigos nossos falavam que o relacionamento deles estava se acabando por ter muita rotina? Olhávamos um para o outro e ríamos, porque nós tínhamos incorporado todas as rotinas dentro de nós e brincávamos com todas elas. A única delas que não fazia parte, é essa justamente, a rotina da dor, e com ela não brincamos juntos. Se me apego a objetos que eram seus, é na esperança de poder tocá-la, acariciá-la, sentir você por perto, nem que seja por breves instantes.

- Tereza, Tereza...Quantas vezes mais eu terei que gritar o seu nome para que eu tenha a rotina da resposta:- Estou aqui! Nada! Silencio total, mortal, vazio. Silencio sem expectativa alguma. Silencio com direito a mais silencio. Um silencio silenciosamente amargo, como fel que adoça minha boca, como lágrimas que despencam numa queda vertiginosa, marcando o solo se por ventura alguém quiser me seguir.

Sinto Tereza. Mas não consigo fazer com que essa carta não seja de dor. No momento é o único sentimento que conheço e veio acompanhado da saudade. Na verdade nem sei quem trouxe o outro, ou talvez tenham vindo juntos, isso não importa no momento. Vieram no endereço certo e eu assinei o recebimento.

A dor é só minha, mas a carta é pra todos.

Di Camargo, 23/11/2010

Di Camargo
Enviado por Di Camargo em 23/11/2010
Código do texto: T2632300
Classificação de conteúdo: seguro