O PIANO - 1992
O PIANO - 1992
Dedico este comentário a você que pergunta o que eu vi neste filme?!
Neste comentário dispenso os atores, pois estes estão impecáveis em suas atuações, falam não só com suas vozes, mas nos olhares e comportamentos
Acho que o filme o Piano, foi feito para psicólogos e psiquiatras. É um filme onde o personagem principal não tem um corpo, não tem uma fala, mas ele domina todas as cenas, ele quem rege o tom do filme e este personagem é a musica.
O filme mostra o destino imposto, as fantasias rompidas mostram que às vezes mesmo estando fadados e termos um estigma em nossa vida, há sempre um ultimo segundo para mudarmos as coisas, a nossa vida a nós nos pertence...
Tudo sombrio, um filme numa película azulada que em certos pontos chega a ser sufocante, que em certos momentos oprime e cansa, mas mesmo na cena mais escura o personagem misterioso esta lá...
Ada, [Holly Hunter] que aos seis anos resolve deixar de falar. Mais simples que deixar de lado um vício, como esta mesmo fala: “-não me sinto muda...”, como se sentir muda quando expomos os nossos sentimentos e desejos de maneiras mais contagiante do que a fala?
Ada, que mesmo sendo criada numa época puritana e escura, luta por romper barreiras, cria o seu mundo e paga o preço por ele, mesmo tendo sob sua proteção Flora [Anna Paquim], filha de um amor proibido e perdido, filha a qual cria mundos fantasiosos para justificar os erros da mãe, personagem forte que mostra a instabilidade e fragilidade do ser humano. É contra peso de Ada...
Numa das cenas repleta de simbolismo Flora faz um cavalo-marinho na areia da praia, seria uma mera coincidência, ou o diretor quer mostrar a necessidade desta encontrar um pai que cuide da prole?
Alisdair [Sam Neill], figura gananciosa, medrosa e medíocre. Não consigo visualizá-lo e opinar sobre a antipatia que ele gera. Talvez seu personagem incomode tanto pelo fato que dentro de todos nos há um Alisdair... Pôr trás da faixada de normalidade, do Homem sempre certo há uma pessoa pronta a explodir, uma pessoa onde toda sua vida se baseia no conceito de aumentar as riquezas e manter os padrões, não se importando às vezes consigo próprio. A patologia expressa de maneira sutil; num penteado e o inicio do surto é expressa desta mesma maneira...
Baines [Harvey Keitel] cresce mais que todos no filme. Alma livre e atormentada. Conseguiu mais do ninguém entender a alma humana, conseguiu romper o mundo de fantasia, conseguiu derrubar os muros. Baines, se esta historia fosse ambientada no Brasil, com certeza este seria um novo-selvagem...
“Que morte!
Que Destino!
Que surpresa!
Minha vontade escolheu a vida!”
Frases pensadas no meio de metáforas e como não podia deixar de ser, o simbolismo da morte/nascimento na água...
Hoje foi uma das várias vezes que assisti a este filme e a cada vez busco uma leitura diferente para ele...
Mesmo que você não goste ou achando-o pesado, veja-o ou reveja-o e disseque-o. Talvez ali esteja a resposta em forma de símbolos para algo que possa estar incomodando em sua vida...
André Zanarella 10-06-1997