Texto enviado aos senadores e deputados federais por email

É com tristeza e muita vergonha que me dirijo ao senhor, para falar dos últimos acontecimentos que envolvem as pessoas que foram eleitas pelo povo para defende-las e que se encontram nessa casa. Ao longo de minha vida eu tenho ensinado para os meus filhos que honestidade, bom caráter, educação, amor ao próximo, são qualidades fundamentais para que qualquer pessoa possa ser considerada um homem/mulher digno de nota 1000; essencialmente um ser humano na mais pura acepção da palavra.

Também trabalho como oficial de justiça e nesses dezesseis anos tenho levado muitas notícias, algumas boas, algumas ruins, para pessoas que cometeram deslizes no decorrer de sua existência e que se encontram presas em estabelecimentos prisionais. Mas, a cada dia que ouço uma notícia, cada uma mais bombástica e vergonhosa que a outra, quando vejo pessoas que deveriam ser de “comissão de ética” julgarem seus colegas de “trabalho” (essa palavra é uma piada em se tratando de Senado, se compararmos com a quantidade de horas trabalhadas pela maioria dos brasileiros, como por exemplo, cortadores de cana, lavradores, etc...) e as absolvendo por falta de provas (outra piada), fico imaginando... Se pegarmos uma cadeia qualquer do Brasil e somarmos todo o patrimônio que “aqueles ladrões” subtraíram de pessoas da sociedade, será que atingiríamos a cifra de 1% (um por cento) de todo dinheiro desviado por essas pessoas que se dizem “políticos” e que deveriam zelar por esse dinheiro para uso do povo brasileiro, e “não se apoderar dele para satisfazer suas ambições pessoais”. Infelizmente na administração pública o que vemos todos os dias é um novo escândalo de um personagem desta casa e/ou da Câmara dos Deputados, quando é deles que deveria partir o exemplo de ética e moralidade que devem permear todas as pessoas que vivem neste país.

Para nós brasileiros, do mais simples ao mais abastado e que ganham a vida com o suor do próprio rosto, é revoltante tomar consciência de que parte dos impostos recolhidos na compra de qualquer produto, de qualquer gênero alimentício, é esbanjado ou simplesmente desapropriado por essa “corja” de aproveitadores instalada em Brasília há décadas. Tais pessoas aprovam as leis que nos regem, porém se escondem atrás de suas investiduras de políticos para se safar de pagar pelos crimes cometidos. A única certeza que temos é que os crimes cometidos por eles e seus “assessores” ficarão impunes, por mais graves que sejam; porque cadeia foi feita para o pobre.

Abaixo transcrevo a sentença de um juiz para seu conhecimento:

Eis parte da sentença do juiz Rafael Gonçalves de Paula, da 3ª Vara Criminal de Palmas (Tocantins), que deu liberdade a dois cidadãos presos, acusados de roubo de duas melancias. Fez tanto sucesso que a Escola Nacional de Magistratura incluiu o despacho do meritíssimo, na última sexta-feira, em seu banco de sentenças:

"Para conceder a liberdade aos indiciados, eu poderia invocar inúmeros fundamentos: os ensinamentos de Jesus Cristo, Buda e Gandhi, o direito natural, o princípio da insignificância ou bagatela, o princípio da intervenção mínima, os princípios do chamado direito alternativo, o furto famélico, a injustiça da prisão de um lavrador e de um auxiliar de serviços gerais em contraposição à liberdade dos engravatados que sonegam milhões dos cofres públicos, o risco de colocar os indiciados na universidade do crime (o sistema penitenciário nacional).

Poderia sustentar que duas melancias não enriquecem nem empobrecem ninguém. Poderia aproveitar para fazer discurso contra a situação econômica brasileira, que mantém 95% da população sobrevivendo com o mínimo necessário. Poderia brandir minha ira contra os neoliberais, o Consenso de Washington, a cartilha demagógica da esquerda, a utopia do socialismo, a colonização européia. Poderia dizer que George W. Bush joga bilhões de dólares em bombas na cabeça dos iraquianos, enquanto bilhões de seres humanos passam privação na Terra – e aí, cadê a Justiça nesse mundo?

Tantas são as possibilidades que ousarei agir em total desprezo às normas técnicas: não vou apontar nenhum desses fundamentos como razão de decidir. Simplesmente mandarei soltar os indiciados. Quem quiser que escolha o motivo."

(Publicado na "Tribuna da Imprensa", caderno "Tribuna Bis", de 4.07.06, página 2).

Eu sonho com o dia em que eu lhe escreverei falando de coisas boas, falando de ética, moral, amor ao ser humano e disciplina, exemplos esses dados por pessoas que ocuparão essa casa. Estou apenas desabafando e colocando no papel parte da revolta que sinto com essa situação. A política, em sua definição no dicionário, é algo maravilhoso. Pena que os homens a deturpam e a tornam um símbolo de tudo o que é “escroto”, “desonesto” e que nos dá “vontade de vomitar todos os dias”, a cada novo escândalo deflagrado por aqueles que “deveriam nos proteger e serem exemplos dignos de seres humanos e de brasileiros com B MAIÚSCULO”.

É claro que nem todos os políticos são desonestos ou mal intencionados. Mas, infelizmente, temos aquele velho ditado que diz... “quem se junta aos porcos, farelo come”. E ai esses políticos honestos são relevados ao último plano, são congelados, para não atrapalhar aqueles que tem todo o tempo do mundo para “maquinar” formas de usurpar o dinheiro público. Amo este país e sei que ainda vai demorar para vê-lo moralizado... mas vou continuar tocando minha vida, ajudando pessoas que precisam... vou fazer a minha parte e rezar para que Deus coloque pessoas decentes nos próximos anos em Brasília. Peço-lhe que faça de tudo para mudar as leis deste país para que sejam candidatos apenas pessoas cuja moral, ética e honestidade estejam acima de qualquer coisa.

Email enviado para todos os senadores e deputados federais em 19/08/2009, quando do escândalo envolvendo a família Sarney. Este texto é um desabafo e, para dizer a verdade, só recebi resposta de dois senadores: Flávio Arns e Eduardo Suplicy. Mas, no dia seguinte, tive o imenso prazer de ver o Senador Eduardo Suplicy exibir um cartão vermelho para o José Sarney. Só isso já valeu...

Magda Simões
Enviado por Magda Simões em 15/09/2010
Código do texto: T2498618