Carta ao ego
Venho com sede na alma e desejo no coração, escrever palavras mansas e que acalentam momentos típicos, de uma tarde em que o sol bate fresco na janela e deixa um fio de ouro entrar pela varanda. Um toque suave de canela embala meu sono que chegará a qualquer momento, regado pela seda dos pensamentos e pelo seu olhar em minha mente. è claro que nada se compara ao meu tão desejado ímpeto de amar alguém mais do que a mim mesmo, mas fica a dúvida pairando sobre minha cabeça de que nada nesse mundo é melhor do que amar.
Mas, e eu? O eu que me consome e me questiona quando será nossa próxima lua-de-mel? Ou quando o levarei para jantar e depois corrermos loucos apaixonados pelas ruas de Veneza? Pois ficou escasso o tempo em que me dedicava mais ao meu eu. Que passava horas traçando fios de meada pela toalha que mais tarde viria a enxugar minhas lágrimas de amor. Momentos em que passei olhando no espelho e dizendo que a alguns anos não tinha essa pequena ruguinha.
Mas, como num passe de mágica, tudo sumiu. Tudo ficou a mercê do destino e logo vi que o eu não importava mais, assim achava.
E, aqui, rogo a todos que não deixem que seu eu cobre algo que nunca devia parar de receber: carinho e atenção. Deixe-o a vontade com palavras e sussurros, pois ninguém cuidará tão bem do seu eu como você. E, hoje, estou completamente apaixonado pelo meu eu, apesar de ouvir que sou egoísta. Mas sabe de uma coisa? Já não ligo.