Que nem Labiata

Se quer mesmo saber como estou

Puxa uma cadeira e se senta por favor

Não tem nada de novo

Mas o que é velho às vezes tem mais valor

Estou bem

Mas, às vezes ela vem

Molha os olhos, a boca o rosto

E a cama tambem

Com perda aprendemos muitas coisas

Damos valores inestimáveis a coisas simples

Sorrisos, flores, cores, sabores

Ganhei rugas, perfumes, quadros e alguns quilos

Continuo ouvindo música e anotando a letra

Continuo fazendo quadros apenas com tinta preta

Ainda me pego às vezes me riscando com a caneta

Ainda assisto jogos reprisados esperando que o placar reverta

Aprendi que o sucesso não depende do quanto somos valente

E sim da capacidade de aguentar pancadas e ainda permanecer de pé

Que a lua não nasce pra ninguem em específico

Nasce pra quem olhar pra ela seja pobre, miserável ou rico

Não ligo mais para o quão limpos estão os tênis nos meus pés

De qualquer forma me servirão

É igual a cachaça do sábado

Só serve mesmo para não pisar no chão

Por falar em cachaça, agora mudei

Não dou mais os vacilos que dei

Só bebo agora em casa porque agora sei

O quanto dói no bolso estar fora da lei

Dei umas viajadas

Em abril caí na estrada

Conheci lugares que nem te digo

Acho que não vou mais lançar aquele livro

Ficou sem graça...

Acho que estou mais chato

Gosto cada vez mais de menos coisas

Mas, estou lendo mais

Ah, a lanterninha ainda funciona com as pilhas originais

E olhe que já se vai um ano e meio, ou mais...

Ando escutando música pra valer

Escuto canções antigas

Regravadas pela MPB

Mas, prefiro o som do velho LP

Tenho freqüêntado uns lugares que você não iria

Não pelo lugar em si

Mas sei lá...

Pelas companhias

Aumentei o jardim da varanda

Criei um sementeiro

Agora tem tomate cereja que toda vez Chico vem e cata

Tô cultivando orquídeas, ontem comprei labiata

Pena que ela só brota no final do verão

É tanto grilo que mais parece uma mata

Estou trabalhando com mil coisas

Do jeito que eu gosto e você odeia

Mas, não é ruim

O dinamismo corre nas minhas veias

Agora estou mais noturno

É foda, porque só amanhecendo é que eu durmo

E no trabalho dá um sono danado

Mas assim me sinto mais relaxado

Deixa eu ver o que tem mais pra contar...

Num sei, mas, como muito gente deve te perguntar por mim

Faz assim...

Se alguém perguntar por mim

Diz que fui por aí

Levando um violão debaixo do braço

Em qualquer esquina eu paro

Em qualquer botequim eu entro

E se houver motivo

É mais um samba que eu faço

Se quiserem saber se volto

Diga que sim

Mas só depois que a saudade se afastar de mim

Tenho um violão para me acompanhar

Tenho muitos amigos, eu sou popular

Tenho a madrugada como companheira

A saudade me dói, o meu peito me rói

Eu estou na cidade, eu estou na favela

Eu estou por aí

Sempre pensando nela

Sem muito "arrodeios", diz e pronto.

*Letra de Zé Kéti e Hortêncio Rocha - Se alguem perguntar por mim

O velho moço
Enviado por O velho moço em 27/08/2010
Reeditado em 27/08/2010
Código do texto: T2462388
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