CARTA DE UM LOUCO
Querida,
Não achei uma caneta, por isso estou lhe escrevendo a lápis.
Voltando.
Querida,
Somos dois lado a lado, mas o Pedro cansou. Fiquei correndo, assim e, sozinho. O pneu estava furado; não dava para remendar um rasgo assim, como estava, tão grande, na sua perna quebrada; tentei colar, mas a Margarida estava morrendo. Fizemos de tudo que foi possível, foi ótimo, mas tive de plantá-la no jardim. Da infância não lembro mais nada, ou quase nada, sim ela nada, mas só no verão ou quando não faz frio, pelo menos lá no jardim ela toma água da chuva; tem chovido pouco, está faltando você aqui. O tempo passa, a vida passa, tudo passa pela minha janela, só você não passa. Perguntei porque puseram grades nela, não posso fazer mal a ninguém a não ser a mim mesmo. Disseram que era para o segurança, mas ele nunca veio aqui pegar a grade. Esses remédios, o remédio que eu tomo, me deixa sozinho; penso em você, lá no parque, mas você não está lá, quando estica, há o perigo de arrebentar. Penso em outros lugares, mas você também não está. Penso, então, só em você, e lembro-me dos doces açucarados, fico preocupado com o açúcar subindo, o pão, o leite, a gasolina está acabando, logo vou ter de parar no posto de saúde para pegar mais remédios; o dinheiro não está dando na árvore, que meu amigo do quarto do lado me deu, plantei faz um tempo e até agora nada, assim ela vai acabar resfriada.
Gosto de você, muito mais do que você gosta de mim, nada mais a dizer, fico por aqui, mas em breve vou mudar, você vai ver. Então vou buscar você.
Do seu Maluco Beleza