Meu ozahir INABALÁBEL!
Aquelas frases filosóficas, foram só pra te impressionar, pra te passar essa ilusão de intelectual... na verdade eu ainda nem sei se acredito nos valores que me ensinaram e nem sei se vale a pena tantas palavras tiradas do dicionário, quanto mais em frases feitas e opiniões formadas!
Senta aí, vai! Deixa eu tirar os sapatos, desarrumar o penteado, lavar o rosto... quero te mostrar que assim de perto não sou tão bonito quanto pareço, por isso uso todos esses artifícios. É que no fundo tenho um medo terrível de que você me ache feio, de que você encontre em mim uma série de imperfeições.
Sabe, não quero mais usar essa máscara de homem inatingível, de homem forte com punhos de aço... No íntimo me sinto uma pequena ave indefesa, leve demais para enfrentar o vento. Olha pra mim, às vezes minha intimidade não tem brilho algum e você terá que me amar muito para suportar essa minha impotência e essa minha insegurança cotidiana.
impotência que muitos negam diante das câmeras, nas frases bonitas do orkut, nas fotos coloridas e selecionadas...
Vai, deixa eu tirar o casaco, tirar o cansaço, tirar essa roupa social que me deixa suado...
A convicção de independência afetiva? É tudo balela! Eu queria mesmo era dividir a cama, a mesa, o banho, usar sua escova de dente por engano... Queria dividir os sentimentos, os sonhos, as ilusões os fracaços... um pedaço de torta, uma xícara de café coado com toalha de mesa improvisado, algum segredo...
Quantas vezes me inventei e até me convenci da minha identidade. Administrei minha liberdade. Tomei aviões, tomei whisky, cachaça pura... troquei a lâmpada, abri sozinho meu quarto no escuro e acendi a lâmpada com medo de pesadelos ...
decidi o meu destino com tanta segurança!
Agora, cá estou eu, vinte e tantos anos e todo atrapalhado, não sei direito o que fazer para agradar. Confesso que isso me cansa um pouco. Queria mesmo era falar de todos os meus medos, "dos seus medos?" você diria, como se eu nunca tivesse temido nada e diz que já sou experiente nas coisas do mundo, haha, tudo balela meu bem... Queria te falar das minhas marcas de infância, dos animais que tive, do meu primeiro dia de aula... queria falar dessas coisas mais elementares, e te levar na casa dos meus pais sem ter brigas ou ciumes de ambos, te mostrar meu álbum de fotos quando era um bebe, ah, queria te mostrar minha primeira bicicleta. Ela ainda existe! Queria te mostrar as árvores que eu plantei, ou melhor dizendo, um feijãozinho no algodão e todas essas coisas que são tão importantes pra mim e tão insignificantes aos outros.
Ah, você queria falar alguma coisa?
Está bem! Antes, só mais uma coisinha: estou morrendo de medo que você saia desta cena antes de mim, que você saia à francesa desta história, e eu tenha que recolocar minha máscara, e me reinventar outra vez, para ser um estereótipo orkutiano e depois repetir esse mesma história a mais algumas mulheres até me encotrar fraco de mais para voar...