Um lápso de memória
Basta um instante de silêncio, um leve sopro de solidão, uma palavra tangendo os meus ouvidos, aludindo o seu nome, ou uma simples imagem que me faça desejar a tua presença junto a mim, para que eu me pegue, de repente, folheando as páginas da minha vida. Mas precisamente, as páginas da nossa história. No diário "secreto" da minha vida, tão certo como o sol surge todas as manhãs, os nossos momentos estão em cada linha de cada página.
No livro da minha vida, digo, na minha versão da história da minha vida, não existe nada ireal, imaginado. Tudo é real. Tão real que eu sabia exatamente como você estaria quando nos reencontrassemos. Afinal, você sempre esteve tão presente em cada momento da minha vida, que eu nunca tive dúvida de que eu te reconheceria quando te visse de novo.
Confesso, entretanto, que embora já tenha vasculhado cada canto da minha memória, não consigo me lembrar nem o momento nem a circunstância, sequer o lugar em que nos conhecemos. Isso tem me incomodando tanto.
Inventar algo a respeito, além subestimar a tua inteligência, é um atentado à verdade e um desrespeito ao nosso amor. O fato é que eu não sei quanto tempo você permaneceu quieta, plantada no meu coração, sem que eu percebesse a tua presença. Presença tão forte que, uma vez percebida, jamais foi esquecida.
Não posso deixar de lamentar o fato de confiar nas pessoas erradas. Acabei perdendo o que mais queria por não conseguir ouvir quem eu mais precisava, por não ter insistido pra que você me ouvisse.
O mais estranho é que eu me vejo tentando reescrever a nossa história, e, ao mesmo tempo, sonhando em viver o que escrevi (acho que não é tão estranho assim).
Estranho mesmo é que, entre uma circunstância e outra, acabamos permitindo que outros pessoas escrevessem cenas alheias, à nossa revelia, tecendo tramas que culminariam na nossa separação. Estranho é estarmos vivendo histórias diferentes, às vezes fomentando, às vezes fugindo da nossa própria história, entre o desejo de viver e a necessidade de nunca ter vivido, entre a saudade do real e a força do imaginário.
Eu sigo folheando as páginas da nossa história, sem saber como você está agora: se está feliz ou não, se está alegre ou triste, se está com saudade ou com raiva; por causa do meu silêncio, se está me achando sensato ou covarde, enfim.
Por saber que você também passa os dias, as noites, as horas folheando as páginas da tua versão da nossa história, eu sigo folheando, folheando, relutando para te pedir que me ajudes preencher esta lacuna.
Faço isto, correndo o risco de te magoar, ou de passar por bobo, de ter perdido a oportunidade de ficar quieto por ter tocado num fato que poderia (ou deveria) ficar como estava: desapercebido. Ou ainda: de receber como resposta uma sugestão nada amistosa para o título deste texto: "Um relapso sem memória".
No livro da minha vida, digo, na minha versão da história da minha vida, não existe nada ireal, imaginado. Tudo é real. Tão real que eu sabia exatamente como você estaria quando nos reencontrassemos. Afinal, você sempre esteve tão presente em cada momento da minha vida, que eu nunca tive dúvida de que eu te reconheceria quando te visse de novo.
Confesso, entretanto, que embora já tenha vasculhado cada canto da minha memória, não consigo me lembrar nem o momento nem a circunstância, sequer o lugar em que nos conhecemos. Isso tem me incomodando tanto.
Inventar algo a respeito, além subestimar a tua inteligência, é um atentado à verdade e um desrespeito ao nosso amor. O fato é que eu não sei quanto tempo você permaneceu quieta, plantada no meu coração, sem que eu percebesse a tua presença. Presença tão forte que, uma vez percebida, jamais foi esquecida.
Não posso deixar de lamentar o fato de confiar nas pessoas erradas. Acabei perdendo o que mais queria por não conseguir ouvir quem eu mais precisava, por não ter insistido pra que você me ouvisse.
O mais estranho é que eu me vejo tentando reescrever a nossa história, e, ao mesmo tempo, sonhando em viver o que escrevi (acho que não é tão estranho assim).
Estranho mesmo é que, entre uma circunstância e outra, acabamos permitindo que outros pessoas escrevessem cenas alheias, à nossa revelia, tecendo tramas que culminariam na nossa separação. Estranho é estarmos vivendo histórias diferentes, às vezes fomentando, às vezes fugindo da nossa própria história, entre o desejo de viver e a necessidade de nunca ter vivido, entre a saudade do real e a força do imaginário.
Eu sigo folheando as páginas da nossa história, sem saber como você está agora: se está feliz ou não, se está alegre ou triste, se está com saudade ou com raiva; por causa do meu silêncio, se está me achando sensato ou covarde, enfim.
Por saber que você também passa os dias, as noites, as horas folheando as páginas da tua versão da nossa história, eu sigo folheando, folheando, relutando para te pedir que me ajudes preencher esta lacuna.
Faço isto, correndo o risco de te magoar, ou de passar por bobo, de ter perdido a oportunidade de ficar quieto por ter tocado num fato que poderia (ou deveria) ficar como estava: desapercebido. Ou ainda: de receber como resposta uma sugestão nada amistosa para o título deste texto: "Um relapso sem memória".