Já não há rosas de um roseiral imaginário.

Maceió, 04 de março de 2010.

Meu querido,

Quando eu te dizia que o amor é de insidioso proceder, você não acreditava e com a certeza que só as crianças possuem você dizia, malcriado: Não amo mais!

E eu, com todas as dúvidas que só a maturidade pode trazer, te dizia: Talvez!

Pois bem, eu detesto dizer: Eu não disse? Mas, meu querido, eu não disse mesmo?

Eu bem que te disse que o amor se instala de mansinho, se gruda em nós como uma má fama, se transforma numa tatuagem.

É isso, meu querido, o amor é uma tatuagem que fazemos quando estamos totalmente embriagados das sensações únicas que só o contato com o ser amado provoca. E quando acordamos no outro dia, totalmente ressacados dessa fada verde absínica que é o amor, verificamos que ela não vai mais sair de nossa pele, e nem isso desejamos; para o bem e para o mal, cada tatuagem é parte de nossa história, de nossa vivência e de quem somos. Somos corsários dos mares do sul em nossa pele os mapas dos descobrimentos, dos saques, das pilhagens, dos oásis. Sobretudo dos oásis, que nos permitirão parar de singrar os mares, sentar a cabeça, criar juízo.

Você já me perguntou um dia, quando era só um menino, porque isso acontece, e eu te respondi - se não me engano - que é a memória da nossa pele responde que está marcada pelo gosto, pelo cheiro, pelo calor do outro; que nossos olhos já não podem ver mais do que aquele sorriso manso; que nossas mãos sem as mãos de quem amamos estão vazias. Lembro que você me olhou com ar de dúvida e mesmo de ironia. Afinal por que eu saberia?

Bem, efetivamente eu não sei. O que sabemos apenas é que estamos amando, mesmo com um medo infinito, por causa dos códigos secretos e da compreensão do universo do outro indo além de qualquer maturidade, experiência ou prevenção.

Eu bem que te dizia, meu querido, o amor é uma força sobrehumana e não se detém diante das nossas afirmações pessoais. Ele acontece, eis tudo.

Espero que esse amor floresça. Notei que já não há rosas de um roseiral imaginário, mas florezinhas simples, dessas que nascem em todos os jardins e onde as serpentes não fazem morada por não haver para elas espaço e nem esconderijo. Notei também que elas são diárias, não por obrigação mas pelo gosto de lembrar de quem vem andando, pensando apenas no quanto irá ser feliz.

Saudades tuas, meu querido e todos os votos de felicidade.