2a. CARTA COMENTÁRIO: Conto mais um ponto. Teófilo Fernandes
CONTO MAIS UM PONTO: livro de autoria de Flamarion Costa, publicado em janeiro de 2008, em Correntina - BA e Brasília DF.
"Parabéns Flamarion, que bonito, que bonito!
Os seus registros de Correntina vão desde a loucura mais insana até as loucuras estratégicas dos homens de bem que sabiamente são usadas a fim de que possamos nos organizar em sociedade. Afinal, os homens ditos normais são aqueles que orbitam em torno de uma loucura mediana e aqueles que dela se afastam são os doidos que atiram pedras quando enfezados, que falam palavrões tornando inseguras as pessoas que abordam, os que falam sozinhos pelas ruas, os que perturbam a ordem pública e um sem número de outros nas mais variadas manifestações de loucuras. Os meninos eram sempre coadjuvantes nos espetáculos dos doidos encenados na pacatez das cidades interioranas. Sem os meninos e as suas farras, os nossos doidos talvez não tivessem expressão alguma ao longo de suas vidas, todavia marcaram toda uma geração e ficaram guardados na memória das suas comunidades pelo gesto abnegado de algum daqueles meninos que, depois de crescido, soube historiá-los.
Que bonito, Flamarion, que bonito!
Você, como um índio, também partiu na precisão do tempo em busca da sua grande aventura. Um índio não inventa para si mesmo a necessidade de conhecer Paris, Roma, Rio de Janeiro, Nova York ou São Paulo, mas sim a grande curva do rio. Arremete-se a essa aventura e, se retorna à sua aldeia, volta levando para todos da tribo a história da sua experiência. Você partiu de sua Correntina-BA para desbravar a grande curva de seu rio e como um índio retornou à sua aldeia levando não apenas a história da sua experiência, mas inúmeros (Tomara que incontáveis!), visitantes invisíveis ansiosos dela. Eu, na qualidade de um deles, participei com vocês das noitadas de seresta, das conversas noturnas, dos namoros, desses de ir até a casa da namorada. Ainda mais, estive nas feiras, nos banhos de rio, no Ranchão, desde a sua idealização até o começo de suas atividades. Acho Flamarion, que vivi largamente de muitos de seus momentos em Correntina! O memorável Hotel de Dona Vivi, a invenção que fez do seu amor e a sua contribuição para a cidade tão bem denunciada pelo poeta Teófilo Guerra, “Em cada gesto um jeito de insinuar ternura”. Além ainda, do eclético artista Iôzinho, o Dr. Lauro e a Dona Enoe, Louro de Maninho e tantos outros ilustres e marcantes membros daquela sociedade. Os bares, as molecagens, a tecnologia da máquina de escrever invadindo Correntina, as festas religiosas e comemorativas dos santos de fogueira, Santo Antonio, São João e São Pedro, o fogueteiro, as artes, o teatro transformado em Agência Bancária privilegiando o capital em detrimento da cultura, as chuteiras nos pés dos correntinenses e os Prof. Romeros, autênticos brasileiros desse imenso país, os poetas comprometidos com a urbe e a dignidade de seus cidadãos, as lendas ainda vivas, bem o diga Geraldo Corujão, desde “que pungou no rabo do avião”, as belezas femininas que pela magia das mulheres se conservam eternizadas no imaginário dos jovens (...e por quê não no dos meninos também?), o estilingue, a caça dos passarinhos e uma consciência que não se esvazia daqueles abatidos, inertes e emudecidos, a política culminada em assombros pelo temor maior que a coragem dos homens, a fé católica apostólica espírita, o sino anunciador ecoando mistérios até hoje em nossos ouvidos.
Bonito, muito bonito, Flamarion!
Ao concluir a leitura de seu livro, procurei por mais páginas, sinceramente, queria continuar lendo, descortinando ainda mais a sua dileta Correntina, principalmente pela boa técnica da linguagem utilizada. Uma leitura sem tropeços, nem parece que estamos lendo, mas ouvindo uma história, ou melhor, ouvindo a nossa própria história passada em Correntina.
Atrevo-me, portanto, consignado que me fiz desse direito, a nomeá-lo sem nenhum pudor, Embaixador Vitalício de Correntina, agora também eternizada em: “Conto MAIS um ponto”.
Em tempo:
O grande Luiz Gonzaga espalhou pelo Brasil inteiro uma grande verdade que não sei se percebida pela maioria de sua população:
“Quem foge à terra natal em outros cantos não pára,
só deixo o meu Cariri no último pau-de-arara!”.
Sou daqueles, Flamarion, que inveja os que se aventuraram apenas até a grande curva do rio e retornaram às suas aldeias. Sinto que precisei ir um pouco mais além da curva do meu rio, para descobrir o fascínio que tenho e que sempre terei pela minha aldeia, até que me faltem os meus dias. Se muitos souberam ficar e até hoje desfrutam dos encantos das suas terras, por que nós não soubemos também permanecer nas nossas?
Quanto à “Jéssika Tuller Costa”, o amor que nos ensinam os anjos! a breve intrudução do que promete ser este livro: Um anjo mora comigo! deixou-me avido na emoção do resumo imagino o que não será este livro, como prova de um amor sem medida. Feliz e privilegiado és tu, meu amigo, por ter um anjo morando em teu modesto lar.
Já correntinense, apenas pela leitura de sua obra.
Brasília-DF, 15/11/2008"
Teófilo José Fernandes da silva
Engenheiro do Centro de Planejamento - CEPLAN/UnB - Universidade de Brasília UnB.